Neste blog são apresentados conteúdos literários. Para qualquer assunto podem contactar o autor via ruiprcar@gmail.com. Aceitam-se contributos de outros autores, de 4 a 24 de cada mês, relativos ao tema Natureza ou Universo :-)
Neste blog são apresentados conteúdos literários. Para qualquer assunto podem contactar o autor via ruiprcar@gmail.com. Aceitam-se contributos de outros autores, de 4 a 24 de cada mês, relativos ao tema Natureza ou Universo :-)
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Este é um dia das nossas vidas marcado pela esperança de superar uma pandemia que nos deixa coartados nas nossas liberdades e nos faz entender até que ponto dependemos uns dos outros e nos comportamos de forma cívica e responsável.
Mais um dia em que as pessoas de idade mais avançada, esses livros sem palavras escritas mas com muito conteúdo, estão dependentes daqueles e daquelas a quem deram a vida. E é também aquele dia em que Leonardo DiCaprio é notícia por defender a criação de um fundo para apoiar a Floresta Amazónica, as suas árvores, os seus animais, todos os seus seres vivos, e ainda os que os protegem, ou seja, também os Povos indígenas locais.
Não deixam de ser sempre pertinentes as palavras do Sr António Guterres (ONU) que apela ao combate ao Covid-19 e às alterações climáticas… Vejam-se os seguintes links:
Os fogos em Portugal, os fogos e os céus tingidos de vermelho na Califórnia e em geral as tragédias ambientais pelo mundo, tanto o sublinham.
E este ano, a Feira do Livro de Lisboa, continua a dar um ar da sua graça ou melhor, vários ares das suas graças; pessoas precavidas, saber e sonhos empacotados em livros, e mais olhares que sorrisos, menos papel publicitário e mais ambiente, mais um passo em frente. Afinal, a Feira é uma sobrevivente, nasceu no pós-gripe Espanhola… e talvez por isso a sua vida ao livre nos cative tanto, por agora. “Recheia-nos” com dias melhores, os de agora e os do futuro, esse sempre desconhecido, sempre além da esquina, por muito volúvel e insegura que ela seja.
E mesmo aquele momento, em que aqui vos testemunho ter visto um escritor conhecido amparado por familiares, ali mesmo a tentar visitar aquela Feira, a sua Feira, é algo que agora me faz sentir feliz, pelo simbolismo que tem, ainda que recheado de aparente fragilidade.
Fica, portanto, uma canção para todos e todas que me elevam e a todos e todas quantos alimentam este blog, feito de literatura e natureza.
É incrível como tudo na natureza e no nosso universo está conectado de alguma forma. Um exemplo dessa doce conexão são os rios e as estrelas. Os rios são muito abundantes na região Norte do Brasil que é onde moro. Morar em lugar que tem rio é muito bom, pois durante o dia eles podem servir de meio de transporte, principalmente nas regiões um pouco mais afastadas das cidades e podem proporcionar diversão, pois sempre é possível dá um mergulho e nadar neles. Um banho gelado que acalma um pouco o calor. Já durante a noite os rios se transformam em um lindo espelho da Lua e das estrelas. Tanto que tem até uma lenda indígena que fala de uma índia que mergulhou atrás do reflexo da Lua por acreditar se tratar da própria Lua que ela tanto admirava. E em um local com muitas árvores é quase como se as estrelas ficassem mais brilhantes, mais felizes por não terem que competir com as luzes artificiais da cidade. É como se por alguns momentos o próprio rio adquirisse um pouco do brilho delas. Na natureza admiramos as muitas belezas da criação de Deus. O ser humano quer chegar cada vez mais perto das estrelas, sem entender que elas já estão perto dele. Basta ele se conectar com a natureza para as admirar em toda sua beleza. Os olhos humanos assim como os rios são espelhos das lindas estrelas.
Em dia de viagem a Marte, ficamos como uma viagem aos sentimentos terrestres. Algo muito importante e talvez mais marcante.
"A Borboleta e o Pássaro"
Era uma vez uma borboleta. Linda como as manhãs de primavera e colorida como as flores do jardim. Ela morava com sua mãe num canteiro florido, por onde voava, toda orgulhosa de suas asas aveludadas e de seus rodopios pelo ar. Quando pousava, os raios de sol, batendo no colorido de suas asas, produziam um brilho especial que deixava todas as flores morrendo de inveja. Essa borboleta chamava-se Céu. Sua mãe lhe deu esse nome por causa do efeito azulado de suas asas ao sol. Céu era muito esperta, passava o dia todo voando de flor em flor e fazendo peripécias de borboleta pelo ar. Mas ela não tinha amigos. No canteiro havia formigas, lagartas, famílias inteiras de joaninhas e besouros. Mas a linda borboleta não queria saber de ninguém. Achava que ser amiga de seres tão inferiores não ficava bem para uma borboleta tão linda e especial. Céu achava que era a única borboleta linda de toda a face da terra e que nenhuma outra borboleta ou bicho pudesse se comparar a ela. Quando saía de casa, de manhã bem cedinho, para pegar os primeiros raios de sol nas asas coloridas, Céu nem prestava atenção ao dia que nascia, ou na água do lago, ou no orvalho que refrescava as flores, ou no canto dos pássaros. Ela só se preocupava em aparecer bela e formosa mais uma vez e arrancar suspiros por onde passava. Todos que moravam no canteiro realmente a achavam especial e maravilhosa, e tinham até medo de chegar perto dela porque Céu era tão orgulhosa que, das duas uma: ou ignorava completamente o coitado que quisesse falar com ela ou dava uma resposta atravessada, malcriada mesmo. E lá se ia embora, toda emproada. E assim o tempo ia passando. Até que, certa vez, numa manhã ensolarada, como de costume, Céu saiu de casa para o seu passeio matinal. Passando pela alameda das azaleias, ouviu algo estranho, como um farfalhar de asas. E o barulho não era de asa boa, que pode voar, era de asa machucada, se arrastando pelo chão.
Céu não aguentou a curiosidade e resolveu investigar. Foi voando bem baixinho, no meio do canteiro, sem fazer nenhum ruído, bem suave, até que o barulho ficou bem perto. Ela continuou voando em completo silêncio, até que, ao sair detrás de uma grande folha, viu um pássaro no chão, lutando para levantar voo, sem conseguir. Uma de suas asas estava machucada. Céu pensou: "Se eu chegar muito perto, ele pode querer me devorar. Mas se eu não for até lá, não vou saber quem é ele. E ele também não vai saber quem sou eu!". Assim, orgulhosa como sempre, Céu se aproximou do pássaro que, ao vê-la, fez aquela cara que todo mundo fazia quando via a linda borboleta pela primeira vez. Ela percebeu a cara de admiração do pássaro e ficou radiante, tomando confiança para chegar ainda mais perto. - Olá! Meu nome é Céu! - foi logo se apresentando. - Nome bonito. O meu é Flauta - disse o pássaro, com uma ponta de dor na fala. - O que aconteceu com você? - quis saber a curiosa. - Eu machuquei minha asa. Não vi a cerca e vim voando muito depressa. Quando percebi, já estava em cima dela e... levei o maior tombo! - disse o pássaro e deu um trinadinho de dor. - Ah, coitadinho! - disse Céu, sem nenhum pingo de sinceridade na voz. - Pois é. Agora preciso me arrastar para um lugar mais seguro até minha asa sarar. E o problema é que enquanto eu não conseguir voar, não vou conseguir encontrar comida nem água. E pode demorar um bocado até eu ficar bem o suficiente. - Eu posso te ajudar - falou a borboleta. - Pode? Como? - Bem, eu posso encontrar um bom lugar para você ficar, aqui perto, e trazer um pouco de comida. - Puxa! Isso seria muito bom! - animou-se o pássaro. Claro que a intenção de Céu não era só ajudar o pássaro ferido, mas, assim, ela poderia ver a sua expressão de admiração toda vez que viesse vê-lo. Já estava cansada das mesmas caras que olhavam para ela todos os dias no canteiro. Ele era alguém novo e isso a deixava mais envaidecida ainda. Não era um pássaro bonito, mas, pelo menos não eram aqueles bichos chatos do canteiro.
E assim, Céu se despediu do forasteiro, depois de arranjar um lugar mais escondido, onde ele pudesse ficar sem perigo, prometendo voltar mais tarde com um pouco de água e comida. E saiu radiante, já pensando em que piruetas podia fazer, quando voltasse, para deixálo boquiaberto. Foi até em casa, pegou um pouco de água e comida e voltou para o lugar onde havia deixado o pássaro. Ele ainda estava lá, com a asa machucada, mas quietinho num canto. - Olha, eu não consegui trazer muito, mas acho que é o suficiente. - Muito obrigado, linda borboleta - disse o pássaro, fazendo um elogio à sua benfeitora. - De nada - respondeu Céu, se enchendo de orgulho. E assim, os dois passaram o dia juntos, conversando. Quer dizer, só Céu falou, contando todas as suas peripécias dentro do canteiro, de como os outros bichos admiravam sua beleza, de como ela tinha nascido linda, do porque sua mãe colocou esse nome nela, de quando ela foi pedida em casamento pelo feioso Louva-a-Deus. O pássaro prestava muita atenção nas histórias contadas pela borboleta e ia imaginando as cenas. Às vezes ria junto com ela de alguma parte engraçada ou apenas suspirava quando ela falava da admiração dos outros bichos. E, aos poucos, foi percebendo que a linda borboleta era um tanto egoísta, vaidosa e orgulhosa, e que não se importava muito com os outros. Mas resolveu ficar calado porque não queria perder a nova amiga. Ouviu com paciência suas histórias naquele dia e no outro e no seguinte, esperando que sua asa ficasse boa para ir para casa. Em todos esses dias, a borboleta sempre vinha, no mesmo horário, e trazia um lanche. Quando ela começou a se cansar de contar as mesmas histórias, ele resolveu contar um pouco de suas aventuras no mundo lá fora do canteiro. E contou sobre um lago muito grande onde moravam peixes de todas as cores, e sobre os grandes animais da floresta, e as árvores que dão frutos maravilhosos e tão diferentes que não acabam nunca, e de outros pássaros com seus cantos tão bonitos e suas penas de cores vibrantes... Céu foi ouvindo tudo e ficando cada vez mais incomodada. Como assim? Então existiam, fora do canteiro, outros bichos e plantas que eram tão ou mais bonitos e interessantes do que ela? Isso não podia ser verdade. Devia ser história daquele pássaro maluco, ela pensou. Mas o pássaro continuava contando suas histórias. Agora falava de outras terras onde havia bichos muito diferentes, frutas exóticas, águas limpinhas e frescas, flores gigantes e animais minúsculos. E Céu pensava: "mas como eu nunca soube de nada disso? Então o mundo não é igual ao canteiro?" E uma coceirinha foi tomando conta de Céu, uma vontade de conhecer aquelas coisas todas que o pássaro estava contando, uma comichão de saber mais, de ver com os próprios olhos.
E foi assim que, numa tarde, o pássaro achou que já era hora de experimentar a asa machucada, para ver se conseguia voar. Preparou-se, deu um impulso e... conseguiu! A asa estava boa. Céu olhou para o voo do pássaro e sentiu uma pontada estranha, uma dorzinha bem fininha lá dentro de si. Achou esquisito e se assustou um pouco. Nunca havia sentido nada parecido. Mas ali, olhando o pássaro alçar voo, preparando-se para retomar seu caminho e ir embora, Céu sentiu que não queria ficar longe dele. Ela não entendia muito bem ainda, mas estava com medo de sentir saudades, pois não sabia o que era isso. Era a primeira vez que sentia medo de que alguém lhe fizesse falta. Quando o pássaro pousou ao seu lado, Céu estava murcha. O pássaro notou sua tristeza. - O que foi? - perguntou preocupado. - Você já está bom, agora pode ir embora... - disse, numa voz sumida. O pássaro, enternecido pela tristeza da nova amiga, abraçou-a com cuidado e disse: - Sempre seremos amigos. Eu virei visitar você e poderemos sair por aí, conhecer outros lugares, beber água fresca do rio. Olha, eu sou muito grato por sua ajuda, mas preciso voltar. Tenho um mundo inteiro para voar... Mas a nossa amizade nunca vai acabar, eu prometo. Um meio sorriso se abriu no rosto de Céu. Um sorriso que era um misto de dor, alegria, tristeza, saudades... mas sem nenhum pingo de vaidade ou de orgulho. Céu também não sabia disso, mas a amizade com o pássaro tinha mudado alguma coisa dentro dela. Então o pássaro se preparou para ir embora. Os dois se despediram com muito carinho, prometendo se encontrar em breve. Como lembrança, Céu deu a ele um ramo de miosótis, que o pássaro guardou. - Até breve, querida amiga. - Até breve, querido amigo. E antes de levantar voo, o pássaro também deu seu presente a Céu. Um presente tão maravilhoso que ela nunca mais esqueceria. Não era nada de guardar, nem de comer, nem de pegar. Não era sequer algo que ela pudesse mostrar para alguém. O pássaro se ajeitou no galho de azaleia e cantou. Um canto tão doce, tão terno, tão magnífico que Céu sentiu como se o verdadeiro céu tivesse descido na terra. E então ele se foi. E Céu finalmente entendeu porque seu nome era Flauta. Ele era um rouxinol.
A Mata da Margaraça é uma floresta cheia de encantos únicos, numa terra de gelo no inverno e calor tórrido no verão, com bruscas variações de temperatura. Ramos que mais parecem braços que se estendem para os céus, folhas que mais parecem mãos que nos querem acolher junto dos seus abraços, flores, que mais parecem testemunhas de tempos sem tempo. Caminhos que mais parecem estradas de esperança e encantamento. Encostas abruptas como alguns momentos da vida. Recortes de força que são imposições da natureza, cheia de amor e dor.
Em 2017, metade desta Floresta de encantamento ardeu e hoje continua ainda a recompor-se daqueles dias de terror. Entre os novos ramos de castanheiros surgem os secos e queimados, teimosos por desaparecer, como se o frio de inverno os quisesse fazer permanecer. Tudo isto sem que entendamos verdadeiramente quanto tempo será necessário para que se recupere ou tenhamos sequer a garantia de que um dia será assim.
É preciso, é urgente, é imperioso, fazer algo para salvar os castanheiros da Mata da Margaraça pois estão, parte deles, empestados com uma praga de inseto que chegou a Itália em 2002 em porta enxertos vindos da China, os quais foram também importados por Portugal. Não houve um controlo adequado desse produto e uma nova espécie invasora foi introduzida no Continente Europeu, acidentalmente. Veja-se a fotografia que aqui vos partilho: