Neste blog são apresentados conteúdos literários. Para qualquer assunto podem contactar o autor via ruiprcar@gmail.com. Aceitam-se contributos de outros autores, de 4 a 24 de cada mês, relativos ao tema Natureza ou Universo :-)
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0Estamos de regresso com a Edição 2020-2021 do Concurso Literário Natureza. Vivemos tempos diferentes, que nos obrigam a rever a nossa forma habitual de nos posicionarmos perante a vida. O lado positivo, é aquele que sempre interessou a este Concurso e é-o especialmente hoje: dia em que começou o processo de vacinação em Portugal, contra a Covid-19!
Convida-se à escrita de um poema ou conto breve tendo como principal fonte de inspiração a Natureza. Em toda a sua beleza e força, como sinal de esperança e crença num 2021 cheio de Paz e Felicidade. Também a Natureza do Universo, é digna de um poema ou conto, tal qual em edições anteriores!
O tema dos micro plásticos e o tema da poluição atmosférica, são aqueles que mais nos chamaram a atenção este ano. Por exemplo, ao reparar um eletrodoméstico, poderá alterar o volume de resíduos que vão acabar a poluir o ambiente e assim evitar que o plástico se degrade sem controlo, até formar pó e ser absorvido pelos organismos vivos. Igualmente, se se deslocar mais vezes nas proximidades da sua habituação e a pé, poderá também reduzir a libertação de fumo na atmosfera. Adicionalmente, uma apresentação em Power Point com um fundo escuro e sobre ele letras claras, irá permitir um consumo inferior de energia elétrica, a qual, ainda hoje, é maioritariamente produzida com fontes de energia não renováveis, se olharmos para o conjunto do planeta.
O Regulamento para 2020-2021 é o seguinte:
A participação neste concurso é gratuita.
Qualquer pessoa de qualquer país pode participar desde que submeta trabalhos escritos em português.
Cada participante pode enviar um poema, sem limite de palavras, e um conto, com um máximo de 3000 palavras.
As obras devem ser enviadas por e-mail para Rui M. (blogsnat@gmail.com) juntamente com nome, país, contacto eletrónico. O assunto do email deve ser "Concurso Literário Internacional 'Natureza - 2020-2021'". Espaçamento entre linhas: espaçamento simples; Dimensão da letra: 12; Tipo de letra: Calibri; textos no corpo do e-mail e não em ficheiro.
Os autores participantes concordam em receber e-mails no futuro que tenham como objetivo principal divulgar futuras iniciativas literárias. Devem subscrever o blog (caixa no topo).
Os finalistas vencedores de primeiros prémios têm direito a um certificado digital.
Todos os poemas selecionados serão publicados em antologia, que estará disponível em formato PDF (possibilidade de existir no Windows), com um custo de 2,5 € (pagamento de uma doação pelo PayPal). Os autores premiados têm direito a uma versão gratuita.
Direitos do autor: os autores têm os seus direitos sobre os trabalhos publicados, a fim de publicar como quiserem em qualquer outro lugar. A organização do Concurso detém direitos totais sobre os trabalhos publicados no contexto da Antologia digital do Concurso ou Obra do Concurso em papel.
Prazo para participação: de 13 de Março a 13 de Abril de 2021.
Eventualmente, haverá um mês extra de Concurso mas tal só se saberá após 13 de Abril 2021.
Os resultados finais serão anunciados cerca de dois meses depois do final do concurso em http://contosdasestrelas.blogs.sapo.pt e, quando possível, em outros websites a indicar no futuro próximo.
Publicação impressa via financiamento coletivo, sem obrigação de participação de Autores, com abdicação de Direitos de Autor conforme contrato. Edição sujeita a número mínimo de participantes atendendo a viabilidade da obra.
O primeiro de cada categoria terá direito a um prémio: obra de arte (uma pintura A4) enviada pelo correio.
Membros do júri:
Karina I.
Escritora Brasileira
Lince Verde
Escritor Português
Outros: A designar.
Parceiros:
A confirmar.
Este ano também homenageamos Marco Paulo, o grande Cantor de música ligeira e romântica, que é uma referência para a música Portuguesa.
Convidamos a uma visita à página da Wikipédia e a procurarem as canções do Cantor e procurarem nelas numa inspiração para um poema ou breve conto. Se for possível incluírem a Natureza nesse trabalho então tanto melhor.
Adicionalmente, ficam aqui alguns poemas inspiradores:
Fim, por Viviane P. (Brasil)
São sequências de infinitos caminhos.... Um meu, um teu e um do mundo. E, aqueles encontros programados ou não, Não são mais possíveis nem agora , nem nunca. Minha trajetória mudou, E nem fui eu que escolhi, na verdade. Mas, ainda com essa perspectiva de fim, Tão iminente, tão presente, Não posso esconder dentro de mim, Outro sentimento que não seja amor, Amor demais, de várias formas latente. Pois, se nunca é muito tempo, Para o amor, imagina a eternidade!
Escorrem de mim atravidas doçuras, de achar tudo deliciosamente delicioso. O tempo colore as horas com saborosas iguarias, sempre novas, disponíveis, podendo ser lambuzadas, salpicadas, pingadas em todo lugar. Cabe em mim esse universo de criança, em que não existe tempo, as horas se esparram, caudalosas, em agitadas travessuras.
E ainda o inicio de outro Poema.
VIM TE VER
Vim te ver, pois sei que o sol apareceu no teu dia, vim te ver, pois sei que me invades quando de mim foges, quando não percorres destinos e não sabes para onde ir.
[...]
Para descobrir o Poema na sua completude, o melhor será contactar a Autora, em "Fazendo Amor com o Universo em Versos"
Qualquer pedido para: claudete@msrg.com.br
Um profundo obrigado a todos quantos têm aguardado por esta edição do Concurso Natureza.
Até breve, e um grande abraço com votos de muita Saúde.
Hoje apresentamos um conto por Luísa F. (Portugal) o qual foi premiado na Antologia Natureza 2018-2019. Nestes tempos de pandemia, recomenda-se cuidado na proximidade social em qualquer circunstância, de tal forma que as nossas vidas não sejam ainda mais afetadas. Neste momento, já temos a esperança de uma vacinação algures nos próximos meses.
Recomenda-se a leitura do conto “Ilha de Santa Luzia”.
Ilha de Santa Luzia
Quando me sentei, senti-os moverem-se debaixo das minhas pernas, sem os ver, verdadeiramente, como se fossem transparentes; chamavam-lhes caranguejos fantasmas por terem a cor da areia fina e se confundirem com o ambiente. Tive a clara impressão de estar em família e a sensação estranha de já ter estado naquela ilha, a única com nome de santa no arquipélago das ilhas Afortunadas. Por respeito a esses fantasmas tão familiares, por medo do ridículo, mas também por ignorância, não me atrevi a falar no assunto ao meu pai, Branco (apesar de ser um ilhéu muito tisnado) e um dos biólogos daquela pequena expedição. Pedro era o seu assistente e tinha como missão principal a proteção da cagarra de Cabo Verde, uma ave que nidifica no ilhéu vizinho e que o seu próprio pai tinha caçado durante trinta e cinco anos, assim como muitos outros pescadores, por se tratar de uma atividade tradicional. Milhares de crias foram dizimadas nessa época, e não apenas as cagarras mas também os rabos-de-junco, com as suas longas caudas, os alcatrazes, parecendo cavalheiros de nariz comprido, as almas-negras de plumagem escura...que eram depois vendidos como cagarras. Pedro achava que tinha uma dívida pessoal perante a natureza, contraída pelo seu pai; mas, no seu entender, cabia-lhe a si e aos outros jovens devolver à ilha essas espécies quase extintas. A minha história começara muitos anos antes de eu nascer, mas os episódios mais marcantes que recordava da infância eram os pesadelos frequentes com enormes gatos e ratos vindos sabe-se lá de onde, que engoliam crias de aves cujos ninhos estavam encravados na terra como pequenas manjedouras ou berços de palha. O pediatra da altura descartou a hipótese de apneia do sono mas tentou inteirar-se da nossa história familiar. Não foi difícil para o meu pai, solteiro e dedicado, perceber que a explicação se encontrava naquele espantoso lugar, que visitaríamos um dia. Explicou-me o que eram animais exóticos: — Não são, como pensamos, aqueles animais estranhos e com um aspeto diferente, fora da rotina e muito extravagantes, sabes? Quer dizer, não são só esses; exóticos e invasores, para nós, são animais que vêm de outros sítios, de outras terras e climas, estranhos à forma de vida da terra onde nos encontramos. Exótico, como emigrante ou imigrante, como estrangeiro, está relacionado com o nosso ponto de vista. O meu pai não sabia exatamente o que era ser criança, porque ele próprio tinha sido criado assim pelos meus avós, Luzia e Vicente. Quando as explicações se alongavam, eu adormecia ao som das suas palavras, do alto dos meus seis anos, sabendo que nessa noite não voltaria a ter pesadelos mas talvez sonhasse com belas aves, com peixes-agulha e peixes-voadores muito curiosos e ágeis, com águas cristalinas através das quais se viam os nossos próprios pés e o fundo do mar. Luzia era uma mulher falsamente seca e voluptuosa, que tinha abandonado a ilha na década de 1970 com Vicente, quando ambos andavam pelos trinta. Não se sabe em que circunstâncias se terão lá fixado, pois fizeram segredo disso até à hora da partida, que ocorreu de forma misteriosa, depois de terem criados os dois filhos, Branco e Raso, cujos nomes homenageavam os ilhéus vizinhos (os outros dois integrantes da reserva natural), formando o que se tornaria, em 1990, património público, em conjunto com a ilha de Santa Luzia, deserta, mas não solitária, ou, por assim dizer — deserta por deixar de sê-lo. Nessa época já os dois irmãos tinham atingido a maioridade. Acontece que a minha avó não engravidava porque a ilha estava interdita à presença humana, salvo raras exceções, como eles, alguém que se batesse pelas espécies nativas; mas ainda assim a santa exigiu que em troca da promessa de fertilidade o casal batizasse os filhos com os nomes dos ilhéus circundantes, que seriam para sempre os seus orientadores de carácter e mentores, quando os pais já não pudessem cumprir essa função por darem por terminada a sua vida terrena (depois de se terem banhado em águas claras e convivido com as mais magníficas espécies de aves da região, e aprendido a dar os bons dias aos caranguejos-fantasmas). Os filhos vieram, assim, após inúmeras preces, depois de Vicente ter subido à Topona, o ponto mais alto da ilha (quase quatrocentos metros acima do nível do mar) e aí ter rogado a Santa Luzia que os abençoasse com descendência. Vicente parecia por vezes um pouco distante, porque reservado, mas podia mostrar-se também muito próximo, afetuoso e atento aos detalhes. Luzia juntara-se ao marido nessas preces, apesar de estar cada vez mais convencida de que era estéril; mas quando abandonaram a ilha tinham a certeza de que seriam pais em breve. Santa Luzia era quem lhes poderia valer, por ser mulher, por ser santa e por ser, também ela, desabitada de seres humanos. Branco, o meu pai, ao contrário do meu tio, sempre tinha sido um cético e escusava-se a falar de coisas que não pudesse explicar pela ciência, mesmo que fizessem parte da sua história. A verdade é que oito meses depois dava-se ao mundo, já com um tufo de cabelo como uma crista rochosa, e nove meses mais tarde nascia o tio Raso, à distância de um olhar. Os dois irmãos sempre se distinguiram em tudo, no feitio, no aspeto, nos interesses. Raso protegia dezenas de aves marinhas que sobrevoavam as arribas aproveitando a riqueza das águas que circundavam o seu patrono, de relevo quase predominantemente plano, e seis espécies diferentes que aí construíam os seus ninhos. Era cada uma mais bonita que a outra. O meu tio era um homem pequeno e castanho, mas bastavam três dias de chuva para lhe converter o ar apagado numa exuberante alegria. Já o meu pai tinha como mascote o lagarto-gigante, o qual, felizmente, nunca se fez presente nos meus sonhos; constava que tinha sido extinto no início do século XX, no entanto ele mantinha a convicção de que alguns espécimenes pudessem ter sobrevivido nos rochedos escarpados do ilhéu Branco, seu homónimo e padrinho. Pedro e eu fomos dar uma volta pelos ilhéus antes de darmos por findo o dia em Santa Luzia; contei-lhe dos meus pesadelos com gatos e ratos e ele confidencioume que começavam a ser um problema na ilha. Eram espécies exóticas — e não pude deixar de sorrir ao lembrar-me das explicações detalhadas do meu pai. Falei-lhe nos meus avós e com surpresa constatei que era um assunto do qual não tinha o menor conhecimento. O meu pai não falava da família, era austero e reservado, com um temperamento acidentado e espinhoso, a léguas do seu irmão, plácido e previsível. Pedro apenas conhecia a lenda — a história que se contava entre os pescadores — segundo a qual nos anos 1970 o casal que ali vivia tinha abandonado a ilha de Santa Luzia. Dizia-se, em conversas de homens do mar, que eles talvez não tivessem dali saído e que ainda hoje andariam disfarçados de caranguejos confundindo-se com o vasto areal para permanecerem em paz. Fiquei arrepiada com aquela interpretação que assumi como uma revelação, uma vez que eu própria já o tinha intuído. Mais um assunto que o meu pai não entenderia. Estávamos em 2014, quando eu acabara de cumprir vinte anos e terminava uma licenciatura em Biologia Marinha. Pedro mostrou-me as pequenas calhandras do Raso e os seus ninhos no solo e eu tive que confessara-lhe que o meu pai sempre me pedira que desse continuidade ao seu trabalho na proteção dessa e de outras espécies exclusivas da região, que chamávamos endémicas. Tal como as tartarugas-marinhas, também essas espécies estão em vias de extinção, principalmente por causa da predação humana. Santa Luzia era um local onde se fazia caça indiscriminada, longe dos olhares indiscretos, mas agora também os pescadores estão sensíveis aos problemas ambientais e ajudam a protegê-las. Entretanto os turistas não são ainda bem-vindos, assim como no tempo em que Luzia e Vicente ali conceberam o seu primeiro filho. Voltámos finalmente a Santa Luzia e junto com o resto da equipa rumámos a São Vicente, mesmo em frente. Pedro e eu fomos ficando cada vez mais próximos e decidimos acampar em Santa Luzia, completamente isolados, enquanto tentávamos perceber como varia a fauna da região e procurávamos conhecer-nos melhor. O meu pai acatava tudo o que fosse para o bem da região e das espécies endémicas, porém reagiu com alguma desconfiança.
Prometemos trazer-lhe resultados em breve, para o convencer. O biólogo concordava mas o pai resistia. A nossa rotina incluía a vigilância de ninhos de cagarras para verificar o crescimento das crias. Pedro e eu pesámos criteriosamente todas essas pequenas aves e sei que, nessa agradável rotina, ele sentia que resgatava a dignidade do pai. A ilha já não era deserta, mas tampouco era habitada: nós fomos privilegiados por, durante alguns dias, poder acompanhar o pulsar da vida naquelas paragens. Agora fazemos idas e vindas regulares com os pescadores, sem o pai de Pedro, que já cristalizou no fundo do mar. Tentamos reintroduzir a raríssima calhandra em Santa Luzia, essa ilha que nos habita e que apadrinha a nossa descendência.