Neste blog são apresentados conteúdos literários. Para qualquer assunto podem contactar o autor via ruiprcar@gmail.com. Aceitam-se contributos de outros autores, de 4 a 24 de cada mês, relativos ao tema Natureza ou Universo :-)
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Sucede que hoje vamos ouvir um pouco de música Eslovaca tradicional, verificando que até parece que as vestes dos músicos ficam bem com o frio da neve…
Atualmente, e em oposição ao calor dos fogos florestais, surge o frio extremo apontado como um exemplo de alterações climáticas. E na realidade, eventos climáticos extremos, tanto de calor como de frio, parecem ser evidências deste fenómeno.
Embora não percebamos a letra, o vídeo aparenta alguma boa disposição e vale a pena também por isso mesmo.
Temos também aqui dois poemas do Concurso Literário Natureza de outros anos.
Folklórny súbor Kolovrat Nitra-Šťastné a pokojné sviatky.
Dois poemas da Antologia Natureza 2021:
“Tempo”, por Priscila Carvalho (Brasil)
Tempo Já não sei a hora de levantar Você já me acorda antes Entrou em mim e te faço parte Me orienta Determina Aperfeiçoa Já sigo sabendo que de você tenho a certeza Dos milésimos de segundos Que não posso desperdiçar Mesmo se tiver que esperar Por que a te notar tempo Te percebo A cada detalhe que me traz A vida que se abre E por te ter seguem as batidas do meu coração por isso mesmo incerta De até quando te terei Sigo sem me preocupar com você Por te entender, já é cura.
“Pequenas observações” por Noi Soul (Brasil)
Ao observar a natureza, folhas, flores, céu, nuvens, terra, ar… Percebo o quanto tudo pode estar em perfeita harmonia! A junção da mão divina com a mão humana pode ser esplendora e radiante... Se soubermos cultivar! É como se a vida tivesse sentido de ser! O sol que queima minha face… As flores que perfumam o meu dia… A terra que sustenta os meus pés… Os pássaros que tocam aos meus ouvidos… As folhas que bailam pelo ar… As pessoas dançantes que brilham e dão brilho a todo este ambiente coberto de natureza e gente! Tudo parece se explicar, de repente! As palavras ecoam pelo coração e pela alma: ainda há tempo de se aventurar ainda há tempo de salvar a vida ainda há tempo de sonhar ainda há tempo antes da despedida!
A sugestão amiga do ambiente de hoje é tentar, uma vez, a cozinha vegetariana, utilizando ingredientes locais e da época. É uma sugestão e um desafio.
Hoje publicam-se três poemas, todos eles com uma abordagem diferente.
Recorda-se que está a decorrer o Concurso Literário Natureza África, conforme a publicação anterior.
Pela primeira vez, informa-se que estamos a recolher fundos para um livro solidário, na área da saúde e culinária. Para mais informações, por favor, envie-nos um e-mail para ruiprcar@gmail.com. Obrigado.
A meio (do tempo) da madruga, por “Miguel S.” (Portugal)
A meio da madrugada, acordou-me o Tempo.
Senti.
Eu era um elo numa corrente,
de vida e metal; um elo.
o Sol aqueceu a Pele,
o rubro-rosa invadiu-me,
eu era gota de Infinito;
esse ser nunca visto
mas sentido sempre.
Andrómeda chama,
o seu calor, vislumbro-o,
no meu coração,
não aos meus olhos.
No exato momento em que o Sol cismava sobre mim,
olhei o horizonte…
Lá encontrei o meu reflexo;
um nada revelou-se…
Tão pequeno, tão sem escolha humilde,
Um ponto no firmamento,
Mais pequeno que um ponto de luz.
Sem cor, apenas efémero,
Como a onda que bate, na areia,
a espuma que se dissolve,
um segundo efémero;
o peixe balão que não vi…
a criança que não riu…
Tudo o que não vi e, ditatorialmente,
não faz parte de mim…
E eu ambicionava ser espuma,
não temer o calcário, a pedra,
o frio, o gelo, o cadáver, o medo,
a morte, a vida… o tubarão.
Andrómeda, chamou-me…
e eu fui…fugi.
A meio da tarde: capitulei.
Sou um elo, não tenho o direito,
a negar-me ser esse pedaço de intemporalidade.
Eu sou caminho, um caminhante que doa o testemunho.
A noite fechou-se sobre mim.
Vi-a. Era dominadora.
Não a abracei,
Porque não podia.
A madrugada chegou e,
Só então: as pálpebras desceram.
Esqueci-me de tudo, esvaneci-me.
A Pele sentiu o Sol…
Enrosquei-me como um caracol.
Os dois poemas seguintes remetem para o ser-se criança e tudo o que isso pode implicar. Existem desafios e sobretudo a esperança de muitas brincadeiras!
Alenice no Vale das Araucárias, por Carmen Seganfredo (Brasil)
Trazei lápis, papel, tinta,
a paleta da aquarela.
Trazei o olhar da criança,
o silêncio da vaca amarela.
ABC faça a sua parte!
Lembrança, risque o papel!
Com calma, bem devagar.
Com dom, talento e com arte,
rabisque pedras, riachos,
favos de abelhas com mel!
As raspas doces dos tachos
Os folhetins de cordel.
As correrias cortantes,
em meio ao milharal!
O cheiro de pessegueiros.
de erva-mate e xaxinzal.
O vento no canavial.
Escaladas no coqueiro.
Êta vista fenomenal!
Em linhas, belas, retilíneas
Sete espécies de gramíneas
Arroz que não há igual.
Florestas de araucárias,
altas, fortes, centenárias,
misturadas às bananeiras.
Eis que entre morros, ladeiras,
No vale das araucárias,
surge, intacto, o meu lar.
De repente, sem cansar,
nas asas da imaginação,
salto muro de três metros,
rompo as grades do portão.
Rebento a chave da porta
Quebro tranca e cadeado,
alarmes, gongos, dobradiças.
Rompo janelas, vidraças,
se estilhaçando no ar.
O perfume do jasmim,
entrando pela janela,
se espalhando no jardim,
sob o voo do colibri,
sob o andar do caranguejo.
Ao sabor do dia sem pressa.
Ao som de risos, gracejos.
Com uma lanterna na mão,
me aventuro até o porão.
Um barril tomba de um lado.
Rola outro pelo chão.
Os cheiros se sobrepõem,
frutas, cereais e feijão.
vermute, vinho e quentão,
paçoca, rapadura e rojão.
Êta mistura danada!
É tempo de São João!
Vejam só o que é façanha.
Misturado na farinha,
no vinho, pão e linguiça,
rompendo teias de aranha,
desde o teto até o chão,
salta o gato encurralado,
escoiceando qual alazão.
Sobre cachos de bananas,
pula o macaco e o cão.
Em engradados de Grapettes,
a corrida se repete.
Tombam vidros de chicletes,
que eu apanho com duas mãos,
gargalhando em alto som.
Se arrastando, um ancião
surge, empunhando um lampião:
- Quem invade o meu porão?
Irrompendo qual furacão?
trazendo à vida, almas mortas!
Pisoteando forte ao chão
Quebrando as trancas das portas
Nesta velha moradia
Fazendo bater coração
Onde nem mais pulso batia?
- Maravilha, quem diria?
Com meus gritos de alegria
Acordei quem já dormia!
Na magia da alquimia.
No sono eterno dos dias.
- Oh, é você, vida minha!
Quanto por ti eu busquei;
Disfarcei o que podia.
Não me deram novas tuas,
perdi a vergonha e chorei.
- Cadê a nossa mesa cheia,
com fartura e parentesco
Que cá estou e ainda não vi?
Cadê o cheiro de café,
transbordando leite fresco?
O canto do bem-te-vi?
O preparo para a ceia?
A fumaça na chaminé?
A chaleira no fogão,
As brasas queimando o chão?
- Sua mãe planta lá na horta,
No canteiro todo em flor
Figo, alface, uva e romã.
Ou assa cucas, faz tortas.
Ou borda no bastidor,
vestidos de borboletas
de cor bege e violeta,
para você e sua irmã.
Ou enquanto reza e medita,
Faz pra noiva um enxoval
Repleto de rendas e fitas.
Procure, vasculhe, veja!
Pode ser também que esteja
Lá benzendo o temporal.
Enfrentando o vendaval.
Ou, verdade seja dita
Isso ela também faz
Às vezes esbraveja, grita
Com fervor a bíblia cita
contra uma corja maldita,
censores da liberdade, da paz.
Seu pai vende no armazém,
fiado para quem não tem
comida e sequer vintém.
Ou se desdobra em dez mil
Pra convencer o viajante
De que anda tão senil
Devido a uma moléstia febril,
Que esqueceu que desde abril
Deve esta conta aviltante.
Sua irmã chora lá no canto,
porque nem sapato tem.
Outra irmã vem do internato,
cheia de novidades.
Se chamando juvenista.
Com ares de sabichona,
olha a moda na revista
Discute até com a nonna.
Conta histórias, lê aventuras!
Desenha pássaros, flores,
com arte, talento, encanto.
Escreve versos de amores.
Lê poemas, entoa hinos!
Faz tortas de todas cores.
Vestidos, de rendas, finos.
Vamos, vamos, Alenice!
fazer no cabelo a trança,
que é tempo de meninice.
Neste dia que não avança,
correr da sala à cozinha,
da varanda ao fim da linha.
Antes que a enchente suba,
Que a chuva aumente e nos cubra.
Vamos, menina, anda!
Vá cantar lá na varanda
A música da Viuvinha
Ao aroma da canela,
Ao ruído da chuvinha
Ao chiado da panela
Ao sabor do bom café.
Enfim, faça o que quiser!
Quem sente que está onde ama
Se diverte até na lama.
rola montanha, se arranha,
se embola, fere, se esfola,
gargalhando até o sopé.
Se, de castigo, apanha!
Saltita nas molas da cama.
Brinca seja onde estiver.
Num piscar estou na venda,
Na avenida Araucária.
Nem número a casa tem.
Êta infância extraordinária!
Vem entrando, freguês, vem!
Velhos, adultos, crianças.
Comprem, que aqui tudo tem.
Aponto com a mão e sugiro:
Queijos, baleiros, balança.
Do que mais gosta a piazada?
Sorvete seco, suspiro?
Chocolate, maria-mole,
bala, chiclete, pirulito?
Ou doce de marmelada?
Para a turma de boné:
Tem bombinha e busca-pé.
Bolitas de todas cores.
Carrinhos e o que quiser.
Bem na ponta dos meus pés,
mal alcançando o balcão,
Ofereço com duas mãos,
vinho doce em garrafão
e bandejas de pinhão.
Pão quente, bolo, cachaça,
vermute, grãos e café.
Conto o dinheiro, trocado
Um lindo anjinho barroco
Entra na venda de troco.
Aqui é importante a fé.
Quando a freguesia vai embora,
sei que chegou a hora,
de espanar mesa e balcão
com o velho espanador
de belas penas de pavão.
Varro a poeira do chão.
Só não vou lavar mais copos,
porque já feri a mão.
Hora de ir à escola.
Tentar gazear nunca cola
E é tão perto que eu diria
Que nem a Irmã Inocente
que adora punir inocentes
Conseguiu colocar a gente
Nos castigos que queria
Por atraso de um só dia.
Depois é só diversão.
Vou ler no fim do terreno,
onde uma vaca me olha.
com um sorriso lhe aceno.
Eis o meu refúgio querido,
Ar puro qual da Amazônia
Que eu chamo de Evasão.
ali eu brinco com a Ivânia,
vizinha da mesma rua.
Amiga do coração!
Lá vamos nós as duas
Pular corda, amarelinha
Nas calçadas, em plena rua
dar palmadas na peteca.
Brincar de mãe, de casinha
Embalando uma boneca
Entre pilhérias, risinhos
Com carinha de sapeca
Vamos as duas de fininho
Comer pêssegos no pé,
trepar em árvores, sem medo
sustentadas pela fé.
Falando baixo, em segredo
Pisamos em galhos finos
Mesmo que a rama estremeça
Viramos de ponta cabeça.
Para ver o mundo às avessas.
Ficamos horas assim
Vendo no chão, o capim
O canteiro de amendoim
Os moranguinhos maduros
Em meio à sálvia, o alecrim.
Quando quero vou correr.
Além da cerca vizinha,
sob o parreiral de uva.
Faça sol ou faça chuva
É toda vontade minha,
cruzar espaços e linhas!
No correr perco o sapato.
Tropeço, rasgo o vestido.
Chorar por pouco é bobagem.
não adianta, e é sem sentido.
Vejo um morro de serragem
Brincar nele é um espetáculo!
Com a presteza de um potro
Salto barreira, obstáculo
Pra alcançar a serraria
Quando o que o meu pai queria
É que eu fosse à padaria
Com um pé e voltasse noutro.
Lá no alto, o Seminário
Subo o monte até o cume.
Escorrego morro abaixo.
Num tombo extraordinário.
Cruzo o colégio das freiras.
E com duas piruetas certeiras
Mergulho lá no riacho
e atravesso a ponte embaixo.
Num salto agarro um galho,
Tombo às margens, rolo ao chão.
Sigo em frente qual andarilha,
pelas ruas de Maravilha
Cidade do meu coração.
As peripécias de Lucas, por Carmen Seganfredo (Brasil)