um pouco da pessoa dentro de Pessoa
No Dia Mundial do Livro um pouco da pessoa dentro de Pessoa.
Foi o amigo de Fernando Pessoa, Carlos Queiroz, quem, após a sua morte, se referiu pela primeira vez, na revista Presença, às cartas de amor de Pessoa a Ophélia Queiroz (a sua Ibis...).
Há quem diga que este poema foi escrito a pensar nela:
Por trás daquela janela
Por trás daquela janela
Cuja cortina não muda
Coloco a visão daquela
Que a alma em si mesma estuda
No desejo que a revela.
Não tenho falta de amor.
Quem me queira não me falta.
Mas teria outro sabor
Se isso fosse interior
Àquela janela alta.
Porquê? Se eu soubesse, tinha
Tudo o que desejo ter.
Amei outrora a Rainha,
E há sempre na alma minha
Um trono por preencher.
Sempre que posso sonhar,
Sempre que não vejo, ponho
O trono nesse lugar;
Além da cortina é o lar,
Além da janela o sonho.
Assim, passando, entreteço
O artifício do caminho
E um pouco de mim me esqueço
Pois mais nada à vida peço
Do que ser o seu vizinho.
25-12-1930
Ao ler este poema, também nós, um pouco nos esquecemos do nosso ser...
Fontes:
http://arquivopessoa.net/textos/148
"Cartas de Amor a Ophélia Queiroz", organização, posfácio e notas por David Mourão-Ferreira (Janeiro 2009), Editora Ática
Fica o convite à participação no Concurso Literário Natureza.
Até breve.