3 Poemas, 3 Realidades Únicas
Bom dia.
Após o final do prazo da presente edição do Concurso Literário Natureza 2025, resta desejar boa sorte a todas as pessoas que nos enviaram o seu trabalho. Agradecemos igualmente a quem partilhou connosco o que fez recentemente pela preservação do meio ambiente, sendo a utilização de transportes públicos ou o ato de plantar uma árvore (ou planta), duas das ações mais comuns. Obrigado!
Hoje aqui partilhamos três poemas que, embora sejam tão distintos, têm a capacidade de levar os leitores para realidades muito únicas. O primeiro poema retrata a vida de um artista que num momento da sua vida implora para que continue a ter consigo a inspiração que lhe permite trabalhar, ou por outras palavras, sentir o sonho que lhe permite agir. Após este poema surgem outros dois, um remetendo para a Amazónia e outro para a Família.
A PRECE DE UM ARTISTA, por Elisa C.
Por favor, não se vá inspiração...
Não esmaeça as cores da minha visão.
Que eu sempre consiga ver nos olhos de outra pessoa
Um pouco do seu coração.
Que mesmo sem ritmo minhas palavras componham belas canções.
Que eu te sinta em toda estação:
No outono sendo leve deixando voar quem precisa
E no inverno sendo a neve trazendo magia.
Na primavera que eu não só floresça,
mas também ensine e aprenda.
E no verão permita que eu emane o amor,
que a poesia seja transpirada, suada,
sooada...carregada de paixão.
Que eu seja a flor e a pele e que eu sempre saiba
que o tempo não me impede.
Te peço pra que meu choro,
quando não sendo de alegria,
não inunde minhas mãos...
E que eu sempre consiga formar além de traços,
singelos laços de afeição.
Me faça ser eterna, mas também efêmera,
que eu saiba receber o amor e que ele seja aceito por onde eu for.
Que a saudade e ausência de um abraço
sejam combustíveis pra minha coragem
e que com ela eu percorra papéis e ouvidos
até chegar em seus braços.
Que minhas lágrimas não sejam vistas como drama por quem eu amo
e que dramática seja proferida a mim como um elogio quando fechar a roldana.
Que o palco seja sempre o meu abrigo
e que nele caibam todos os meus delírios.
Me mantenha forte diante a repressão
e que minhas criações sejam uma poderosa munição.
Inspiração... Não permita que eu esqueça
as palavras bonitas do meu vocabulário,
nem que eu perca do bolso as juras de amor,
pois quando não as receber mais
ainda assim terei gentileza para ofertar.
Por fim agradeço por estar sempre aqui...
Em cada detalhe, em cada silêncio e peço pra que permaneça...
Me ampare quando vier o desespero.
Que minha obra seja alimento pra minha alma
e que minha arte seja capaz de mudar uma vida
e quem sabe um dia... Um mundo inteiro.
...
Família, por Iteuane F.
Família é a base de qualquer relação
É amor, cuidado e doação
É estar presente em qualquer situação
É fazer tudo para manter a união.
Família é muito mais que seus genitores
É onde você aprende os seus valores
É o lugar onde nasce seus primeiros amores
Na vida, família é quem te aplaude no palco,
Mas enxuga suas lágrimas nos bastidores.
Família pode ser pai, mãe, irmão
Avós, tios ou alguém que é ligado ao seu coração
Família pode ter o mesmo sangue ou não
O importante mesmo é ter consideração.
Família não é apenas ser parente
Família é estar presente
É um sentimento crescente
É um amor autossuficiente.
Tuas jabuticabas maduras, por Paulo C.
Duas jabuticabas maduras
em pratos leitosos de porcelana bem trabalhada
tu usas para me perscrutares
como um fauno espanhol
numa ânsia equatorial
que encontra reflexo no espelho de minh’alma
As mesmas jabuticabas maduras
me matam a fome de te apreciar,
de vislumbrar tuas curvas acentuadas
com o acento agudo do perigo
e até a devida advertência
de um solícito ponto de exclamação!
Eu subo e desço por tuas curvas,
porém sem velocidade irresponsável
Sem embriaguez
Sem entorpecimento
Quero te aproveitar os montes gêmeos
generosos ante esta boca que te grita
e que te explora os sabores amazônicos
que tua origem marabá me entrega
Duas jabuticabas maduras
que me hipnotizam felinamente
como os olhos dourados da onça pintada
a beber sua preciosa água à beira do rio
enquanto me estuda habilmente
os movimentos
o aspecto
e até mesmo os pensamentos
e que, como a egípcia Esfinge,
é louca para me devorar por eu não a decifrar!
Tuas jabuticabas maduras
penduradas no teu rosto de marabá
são dois pêndulos que remetem às seringueiras
em seu farfalhar constante e sensual
ao sabor dos zéfiros!
Tais jabuticabas maduras
equatoriais, naturalmente úmidas,
amadas de modo selvagem e puro por mim
só me deixam taciturno
quando se espremem produzindo um suco amargo
fruto da tua tristeza,
que sempre é a
N
O
S
S
A
tristeza!
No mais, por serem maduras,
as tuas negras jabuticabas,
pretinhas como o piche,
me conduzem à calmaria,
à calmaria da tela pintada por Ely Gargaglione
com a canoa indígena
e seu escultor igualmente indígena
de bunda de fora
absolutamente como veio ao mundo
à beira do rio.
Ainda vamos a tempo de recordar a rádio, enquanto meio de comunicação mais amigo do ambiente porque não necessita de imagem para comunicar, mas apenas som.
Um exemplo de rádio interessante é a Rádio Amália, que fez 16 anos de existência esta segunda-feira, dia 6 de Outubro. Esta é uma rádio onde surgem inúmeros poemas musicados.
Aqui a ligação para quem a desejar ouvir:
https://www.radio.pt/s/amalia
Continua a Concurso Literário África 2025:
https://contosdasestrelas.blogs.sapo.pt/concurso-literario-africa-mocambique-194439
Até breve.