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Contos das Estrelas

Neste blog são apresentados conteúdos literários. Para qualquer assunto podem contactar o autor via ruiprcar@gmail.com. Aceitam-se contributos de outros autores, de 4 a 24 de cada mês, relativos ao tema Natureza ou Universo :-)

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Alguns trabalhos classificados em primeiro lugar

por talesforlove, em 24.11.24


Hoje são aqui partilhados os trabalhos que ficam nos três primeiros lugares. Sem dúvida, esta leitura, é uma alegria e uma oportunidade de inspiração para todas as pessoas que gostam de sonhar lendo.


1º Lugar
“Candeia viva”, por Elizabete Fernandes

Nasci em Lisboa, 1927,
sob o céu cinzento, nasci para o palco,
o meu destino traçado em letras antigas,
numa cidade onde o tempo respira lento.

De jovem, a minha voz encontrou caminho
no teatro amador, ainda sem peso nas palavras
mas já com tremor, paixão,
no primeiro papel, a primeira respiração.

Profissional, entrei na roda,
na comédia dos dias, nos dramas da vida.
Eric Birling trouxe-me a fama,
no Teatro Avenida, criei o meu nome.

O Verão no Teatro do Povo,
as noites longas, o aplauso caloroso,
sob a direção de Ribeirinho, cresci,
fiz da arte a minha casa, o meu refúgio.

Fundámos o Teatro Moderno,
Por cada peça, por cada fala,
a alma abria, e no Porto experimentei,
a encenação, uma vez só, mas que ficou.

O cinema chamou-me e eu fui,
das asas cortadas às tardes de domingo,
em cada filme, um pedaço de mim,
uma história a contar.

No palco, na rádio, na televisão,
a minha voz ecoou, cruzou oceanos,
e na dobra dos desenhos animados,
levei sonhos aos pequenos corações.

O Rei Lear, meu velho sonho,
realizei-o entre as paredes sagradas,
os 150 anos do Nacional,
os meus 50 de palco, de alma dada.

Hoje sou memória viva,
voz dos que envelhecem,
mas de coração jovem,
enquanto há palco, há vida.

Eu sou Ruy de Carvalho,
de Lisboa ao mundo
e em cada verso, em cada fala,
eu sou eterno, à luz do candeeiro.

 

 

 

 

2º Lugar

“NASCIMENTO”, por Helena Solfyere

Ruy
menino
em palco brinca
riso solto
sonho pinta


Olhos brilham
luz de cena
alma leve
puro poema


Ruy
criança
mundo explora
na inocência
tempo adora


Pequenos passos
grande ator
faz do riso
seu labor


Ruy pequeno
sábio olhar
nuvem clara
a sonhar


Versos simples
vida intensa
coração
sempre em presença


Ruy menino
teatro vida
no abraço
história lida


Ruy
criança
olhar além
mundo é palco
sonho vem

 

2º Lugar
“Um super-herói no cinema” por José Pintos

 

Aquela sala tinha sido inaugurada pelo seu pai há cinquenta anos. Era o seu sonho e o homem mantivera-se teimosamente fiel a um compromisso autoimposto com o cinema de qualidade. Lá, fechado na sua cabina, sem dar ouvidos aos comentários e conselhos, passava o seu tempo, e de facto passou uma vida inteira, a mostrar todos aqueles filmes, da nouvelle vague ao neorrealismo italiano, passando pelos clássicos de Hollywood. Assim fez do seu cinema um lugar imprescindível para os cinéfilos da cidade e arredores. Um ponto de encontro aconchegante, com assentos de madeira estofados em veludo vermelho e isolamentos de cortiça.
O outro não é cinema, António, é... circo! tinha-lhe dito uma vez ao seu filho, enquanto colocava a bobina do filme na câmara, um dos raros momentos do dia em que não fumava, aqueles momentos em que o António menino, ficava extasiado, enquanto comia pão e chocolate, a ver o pai à meia-luz a aprontar a máquina para criar a magia.
Todas essas recordações ficaram-lhe profundamente gravadas, e muito mais tarde, quando o velhote morreu, António herdou com o cinema também a determinação de manter viva a quimera paterna, e tentou manter o barco dos sonhos à tona, lutando contra as ondas das dívidas e contra as correntes causadas por aquelas salas modernas com ecrãs gigantes e cadeiras azuis reclináveis do novo centro comercial que abriu nas proximidades e que rapidamente se tornaram moda. E de facto, um dia, António rendeu-se à curiosidade, cedeu, e foi uma noite a uma daquelas salas. Tentando passar despercebido, entrou no momento em que as luzes se apagaram. Procurou o seu lugar na penumbra. Sentou-se discretamente no seu assento, e afundou-se na cadeira. Era enorme e confortável, sim, mas mais para adormecer do que para ver um filme, pensou ele.
Enquanto aguardavam o início da sessão, as pessoas à sua volta conversavam, mastigavam, verificavam o último whatsapp nos seus telemóveis e abriam todo o tipo de embalagens coloridas e ruidosas de plástico e de celofane. Através dos grandes altifalantes, ouvia-se a música estrondosa dos anúncios que quase fazia doer os ouvidos. Uau, que volume exagerado, pensou
António lembrou-se então de novo do seu pai, que se tinha recusado a permitir no seu cinema a venda de doces e de bebidas, e recusara-se mesmo contra a opinião da mulher. Sim, ela considerava isto um purismo exagerado e achava que era muito prejudicial para o bom funcionamento daquela atividade que era, no fim de contas, a que teria de fornecer os meios de subsistência e garantir a vida da família. Mas ele retrucara-lhe, - não gosto de pessoas a comer e a beber no cinema. Um filme é uma obra de arte que alguém criou, e através da qual ele quer transmitir vivências e sentimentos. É desrespeitoso comer enquanto se vê um filme. Não é a mesma coisa que assistir a um show por puro entretenimento, não é o mesmo que presenciar um espetáculo de circo, percebes? os filmes que eu projeto não se dão bem com refrigerantes, batatas fritas e guloseimas.


Sim, António tinha assistido em criança aos discursos do pai de boca aberta e calças curtas e por isso durante muito tempo, lutou obstinadamente para manter aqueles ideais que o seu pai lhe tinha incutido, e que ele passou a identificar com a defesa da própria memória do seu velho. Mas agora todas as manhãs quando acorda, todas as tardes quando abre as portas de madeira pintadas de verde e levanta a janela da bilheteira, todos os dias e em todos os momentos, sente que o jogo está quase perdido e que o fim está próximo.
Hoje, porém, a sala está praticamente cheia, ele já não se lembrava dela assim. Agora, os dois estão muito próximos um do outro no espaço exíguo da pequena bilheteira, a sua mulher acaricia-lhe o ombro, - que sucesso António, diz ela, vendemos quase todos os bilhetes, que bom é ver toda esta gente. Ele sorri para ela com sorriso triste, mas não diz nada. - E, contudo, não está a ser um dia muito feliz, pois não? pergunta ela. Ele fica calado. Sim, a sala está cheia, é um êxito e, no entanto, não sente alegria, mas sim o remorso amargo da traição e o gosto acre da derrota, e ao sair para o corredor, é meio atropelado por um grupo de crianças que correm para a sala carregadas com caixas de pipocas quase tão grandes como elas.
Depois, sozinho na cabina de projeção, tal como o seu pai tantas vezes fez, desliga as luzes, carrega no botão, as bobinas começam a rodar e o feixe de luz atravessa o espaço escuro até colidir com o pano de fundo branco, inundando-o de cor. De repente, ouve-se uma música épica e triunfal que provoca uma gritaria entusiástica do público. Um super-herói voa pelo ecrã com o seu uniforme brilhante sobre os arranha-céus de uma metrópole, António segue-o com os olhos e com um ar sério. Depois o super-homem pousa no chão. O seu rosto mascarado sorri agora em primeiro plano - aqui estou eu! grita ele, - vim para vos salvar!
A sua mulher entra então na cabina, encosta-se à parede com as mãos atrás da cintura, a olhar para ele. António baixa a cabeça, a pensar no seu pai. - Sim, vieste para nos salvar, murmura a olhar para a pantalha, - mas a que preço!
Ela acaricia-o, sorri com os lábios apertados e os olhos húmidos e beija-lhe o cabelo com ternura antes de se ir embora.

 


2º Lugar
“O MEGA-CONTO” por Carolina Bonixe

O que vos irei contar agora, será algo que acredito que já saibam, mas que ainda não conhecem verdadeiramente. Este é um conto que não tem personagens principais ou secundárias, que não tem uma ação ou um espaço, propriamente. Este é o conto do teatro. E este conto irá mostrar-vos o que ele realmente é e o que representa.

Às vezes olhamos à nossa volta e sentimos uma revolta interior, com guerras, corações destroçados, pessoas a morrer, crianças a chorar, não haver paz no mundo, a liberdade de expressão a ser roubada aos poucos, a fome, as injustiças do mundo. Olhamos para isto tudo e pensamos: “O que é que nos pode salvar? Como é que poderemos falar, e gritar as nossas angústias, ou mesmo as nossas alegrias?” A resposta é simples. Através deste conto, ou seja, através do teatro.
Recentemente escrevi uma peça. O Homem da Blusa Laranja e a Mulher da Peruca Azul. Não se preocupem, não é nenhum tipo de publicidade. Ainda estou a escrever sobre teatro.
Esta peça, por incrível que pareça deu esperança ao público. Deu a esperança de ainda haver igualdade entre todos, de a liberdade continuar a ser uma luta constante, de que o futuro não está perdido, e que mesmo 50 anos depois do 25 de abril, a liberdade continua a ser uma luta interminável. Uma luta pela qual o teatro nunca se irá render. NUNCA! Nenhuma geração seguinte ou passada poderá sequer desistir da cerne do teatro. A liberdade, a felicidade, a vontade de dançar depois de sairmos da sala de espetáculos, ou mesmo a vontade de chorar e de te agarrares à tua mãe, e pedires desculpa por tudo.
O teatro é um conto, onde as personagens, sendo elas os atores/atrizes, técnicos, encenadores, diretores de cena ou o público, VIVEM! VIVEM O QUE VÊM! VIVEM INTENSAMENTE. Podem não o fazer na sua vida quotidiana, mas naquele momento, naquelas horas, ou minutos, em que estão noutro lugar, elas VIVEM. Sentem-se vivas, sentem que estão no mundo por um propósito. Por um propósito maior que eles.
E isto refere-se a todo o tipo de teatro que estejas a pensar.
Quando voltares ao mundo real, para por um pouco, e sente a energia deste conto.
Repara ao pormenor no que é que o teu cérebro te diz: ele ainda está a refletir, a rir-se, ainda está fora da realidade, a absorver toda a informação.
A partir do momento em que nos sentamos nas cadeiras fofinhas (ou não) de uma sala de espetáculo partimos numa viagem mental, com qualquer género de teatro. Seja autobiográfico, político, comédia, tragédia.
Até diria que o teatro é um “mega-conto”. Uma expressão que acabei de inventar.
O teatro é um “mega-conto” porque as personagens o leem com os olhos, com o cérebro, com as palavras, com os ouvidos e até mesmo com os cheiros. Um conto sensorial no fundo. Um conto que mexe e remexe no nosso interior. Seja ele qual for. Seja o coração, seja o estômago, seja o cérebro, seja o bichinho do teatro, como se costuma dizer.
Este conto que vos conto é diferente de todos os outros que já ouviram falar. Pois este conto fala do conto-môr. O TEATRO! Agora pensem em tudo o que vos disse neste conto, e façam como se faz no teatro. Rir, chorar, refletir, pensar, e sobretudo VIVER. VIVER INTENSAMENTE.


3º Lugar
“O Guardião dos Horizontes” por Matile Queiroz

Em cenários tecidos por sonhos e luas,
Ruy, senhor das emoções,
Desenha com gestos, palavras nuas,
A arte que pulsa em corações.
Como árvore majestosa, ergue-se em cena,
Sua sombra, um manto de histórias a contar,
Nas planícies do palco, sua presença serena,
Transforma o simples ato de respirar.
Em montanhas de textos, eleva-se gigante,
Sua voz, vento que molda a paisagem,
Cada papel, um mundo distante,
Que ele nos guia, com sábia miragem.
Com ele, navegamos em mares de intriga,
Onde a dor e o amor se entrelaçam em dança,
Ruy, o artífice, que a alma obriga,
A viajar nas asas da esperança.
Sob sua sombra, encontramos abrigo,
Em histórias que a vida não ousou contar,
Ele, o ator, nosso amigo,
Que ensina o coração a sonhar.
Assim, no teatro da vida, ele reina,
Com a força tranquila de um ser imortal,
Na paisagem da arte, sua figura é a veia,
Que alimenta o sonho, o bem, o vital.
Ruy, eterno em sua arte sagrada,
Nos campos do palco, sua essência a brilhar,
Cada ato, uma semente plantada,
No vasto jardim do humano olhar.


3º Lugar
“A dança da vida” por Rafaell Vungee

Sou apenas um inocente dançarino, descendente de reis e rainhas africanas, que carrega a cor negra de autoridade, cabelo duro de resistência, e o sangue de um deus, justo, bondoso e amoroso. Que deixou- se envolver e enganar por cada música, feita pelos tambores e batuques, com as palmas das mãos de homens trabalhadores e honestos, trazendo a paz, e levando o caos que existia dentro de mim. E me fazendo tirar os toques de danças, mas populares e irresistíveis, sobre o palco que o nome de mundo tem, com toques majestosos e sutis, a dança da vida deixou-me cego, surdo e mudo, me fazendo assim, desejar mais, mais e mais, e esquecer os meus irmãos cada vez, mais, mais e, mais.
Vedando os meus olhos com a imagem de um mundo perfeito, e um futuro certo, fez-me desejar, mais carros, casas, dinheiro, mulheres, e poucos recursos para os meus irmãos. Deixando-me, num silêncio intenso, me fazendo assim inspirar, e espirar paz, mesmo sabendo que só existiria guerra cada vez, mas. Mesmo sabendo que muita gente está chorando e morrendo, em cada hora, minuto e segundos, e nada podíamos fazer porque não tínhamos, muito, mas.
Mas ela havia se esquecido, de que eu carregava o coração de amor, o coração de dor, o coração de justiça, o coração de um guerreiro, destruído por ver tanto sofrimento, o coração da mãe África. O berço da humanidade, que se recusava ver seus filhos sofrer, e nada fazer. Porque ela desejava, e almejava um futuro melhor para os seus pequenos... E furiosa ficava porque tudo aquilo parecia nunca chegar, e os corações dos seus filhos se dissipavam, por saber que a caminhada era longa, e cheia de espinhos, e a luz que iluminava o seu interior se apagava cada vez, mas, e a esperança de um nascer do sol, já não se esperava, porque só a escuridão, servia de consolo, e enchia o buraco que existia no meio de nossos corações, nos momentos de tanta dor e pressão.
A mãe se recusava a acreditar, mas uma vez, nas palavras e fantasia da dança da vida, porque havia se cansado, de ver meninas pequenas perderem suas infâncias e adolescência, por causa de abusos sexuais, e se tornarem mães muito cedo, e os réus serem liberados, por terem dinheiro, influencia, e a justiça ao seu favor. Ela se cansava de ver jovem entrarem para o mundo do crime, põe não terem nada para comer, e venderem drogas, para poderem sobreviver, e a fome vencer, porque eles sabiam que quem vai trás da vida, e de um futuro melhor, não espera conforto, e ainda assim, a mãe África não deixava de sentir seu coração ser amassado, e derrubado por ver pessoas morrendo, crianças passando fome e seus pais sofrendo, por não terem como alimentar os seus pequenos, e seus Corações só choravam. E para piorar, eles eram obrigados a verem sentados na primeira fila, com passes VIPs, os sonhos dos seus pequenos morrem e nada fazerem... E com lágrimas nos olhos verem o dia morrer e o anoitecer a nascer, e perceber que, mais uma vez o tempo passou, e para casa voltariam sem nada para pôr à mesa, e a tristeza os dominava, e os fazia lembrar como a vida é dura...
Mas as dificuldades só aumentavam cada vez mais e mais, e nada se resolvia, porque a esperança de que outra hora existia em vários corações só se dissolvia. Crianças perdendo o sorriso, e serem desprezadas por estarem vestidas com roupas rasgadas e sujas, e serem apedrejadas pelo mundo, por não saberem nenhum pouquinho, da dor e dificuldade que passam, elas desejavam morrer. Mas poucos eram bem-vindos pela morte, porque quanto, mas a gente desejava morrer, mas a morte nos negava essa dadiva e fugia, mas a gente sempre insistia e corria atrás dela cada vez, mas e mas.
Mas eu dei um basta, e fiz soar o rugido do leão das savanas africanas que viviam dentro de mim, eu dei um basta, à guerra, eu dei um basta ao sofrimento, eu dei... Por ter a coroa do príncipe Angolano sobre a cabeça e a determinação e coragem de 1000 guerreiros Africanos, que carregavam sobre o ombro a capa da justiça, e a espada da vitória. Que prontos estavam para morrer, mas o jogo mudar. Sendo luz para quem a muito vive no escuro, e a esperança para quem já desistiu e esqueceu-se dos seus sonhos, e a felicidade para quem triste está.
E com as mãos dadas, os olhos fechados, e os joelhos dobrados, prometemos juntos lutar, mesmo sabendo das dificuldades da vida, e cultivar o amor por tudo quanto e canto, porque dessa vez, já não seríamos influenciados pela dança que a vida nos apresenta, porque a gente decidiu criar nossa própria dança, e não nos deixarmos influenciar por tudo que vemos ou ouvimos... Porque se assim fosse, ela, mais uma vez nos faria, se perder nas coisas matérias e passageiras, esquecer os nossos irmãos...
Não! Dessa vez não! Não nos esqueceremos de aonde viemos e para que batalhamos, para conquistar a tão esperada e aguardada paz! Por que se cairmos novamente, seriamos um povo esquecido, e talvez extinto por cada má escolha, feita e tomada, mas uma vez, por cada um de nós...


Aqui fica alguma informação sobre a série Inspetor Max em que Ruy de Carvalho participou.

https://tvi.iol.pt/aexperiencia/fernando-luis/isaac-alfaiate/ruy-de-carvalho-sente-se-em-familia-no-inspetor-max

 

https://www.imdb.com/title/tt0407400/


Para breve a lista completa de classificados e que estarão na Antologia.

 

Nota: A 24 de Novembro de 1859, o naturalista Charles Darwin publica o livro "A Origem das Espécies" (On the Origin of Species).

Até breve.

Uma fotografia da Feira do Livro no Dia da Criança

por talesforlove, em 01.06.24

Hoje é dia da criança pelo que fica um conto que evoca o nascimento.

Também se publica a primeira fotografia na Feira do Livro de Lisboa 2024.

Lisboa 2024pt.jpg

 

 

O RIO GRÁVIDO, por António M.

O farfalhar das folhas era o da mata, espreitar.

O ruído era como o de quem espiava através dos olhos das florestas.

O seu destino era como o de quem escutava através da audição da multidão.

A ave que voara por acima do leve ruído da escuta foi a mensagem do envio: sinal da cilada mal preparada.

A tribo dos onze que o escuro evitara, era a multidão que escutara: por cautela dos perigos das armadilhas, rodeara o centro da mata ciliar. Como marcavam pegadas nas areias das margens do riacho serpenteante, as árvores do seu mapear eram de cílios que acompanham.

Como que as plantas submersas a ondularem nos seus verticais, quando a pulsação líquida superior despacha vigílias de ondas liqüefeitas, a sondarem as areias das praias dos contornos, assim, os cílios da mata-galeria ondeavam ao derredor dos extremos da sensual trajetória do riacho murmurante. Murmurante? Ora, não eram ouvidos sussurros de solidão na imensidão? Não era ele mesmo um encarcerado na graça do serpenteio do torneio? Mas, nem por isso, em sendo um só, a imparidade na existencialidade deixava de cantar dorido choro fingido. Dorido choro fingido? Sim, por só chorar solidão da falta de união, a dor desse encontro com o nada do enlevo recepcionista era pranto aberto aos céus desse caminho.

Mas, no ao centro do seu percurso entre a cordilheira do nascedouro e o mar do ancoradouro, havia aquele centro dilatado, onde as galerias das galharias e os cílios do celibatário se dilatavam como pejada prenhe. Quem das elevadas alturas, olhasse aquele trajetorial avance, diria que o abdômen do curso era crescido de mau percurso. Ainda por cima, as flores azuis das árvores mais elevadas diziam que varão primeiro nasceria do interior embrião. Ainda que, é bom que se diga, as aves faladeiras daquela sociedade dissessem que flores rosas adornavam os galhos dos arbustos mais inferiores.

No seu miolo do centro do destaque do volume dilatado, bem abaixo dos galhos e das folhas, havia, o central pedestal, a carruagem doirada estacionada. No seu interior, bojo do ouro solidificado ao após da ganga maculadora e, ao após do sofrimento no cadinho da limpadura, era visão da mais pura. Os ocasionais raios do sol espreitador que conseguiam lamber a pureza dessa carruagem eram espantados com a rapidez do recato maculado: por vezes, os habitantes irracionais pareciam vê-lo (ao sol) corar de vermelho sua explosão da luz do seu coração que ardia. Rubor maior ante o crime menor. Crime menor, ora direis? Mas não é a luz e o sol o germinador mor? Basta apenas que o silêncio da formação e as condições da germinação sejam como que um berço do envolvimento.

Raça antiga de tribo extinta, talvez de outra esfera, do celeste luzeiro enviado mensageiro, talvez com os progressos dos retrocessos tivessem ali esquecido a fonte da carruagem da juventude.

Porque a esqueceram, morreram de idade avançada. Avançada para a tribo extinta, posto que sobrevivera até quando a perdera. Mas jovem em juventude para quem a concebera: como morrer o que à eternidade pode escolher?

Mas, voltando ao início, o farfalhar das folhas era curioso espiar. Os onze da tribo que se enlaçara nos cílios da sensualidade da mata-galeria, possuíam, como chefe da expedição, o curandeiro doutor da visitação. Este entendia dos mistérios e das concepções: por certo, não traria desilusões!

Talvez fosse elo perdido da extinta tribo ou descendente consangüíneo no parentesco da evolução perdida na floresta dos esquecimentos.

O que espiava das janelas da mata era o espírito disforme da vegetação do celibato mais impiedoso do só mais ansioso.

E, ainda por cima, os cílios dos contornos davam mais piedade aos que olhavam, de cima, o embalar dessas veludosas cortinas ao centro dilatado, interior pejado.

E a voz da mata ressoou firme e disse:

- Quem se atreve a inserir malícias em meu segredo da minha juventude?

- Quem se imiscui em meu puro ambiente que não polui?

- Curiosidade divagante em meu riacho serpenteante?

- Invasores do nada em meu útero do tudo?

- Sondas mensageiras da destruição ligeira?

- Curiosidades científicas como armadilha da carnificina? Isso não permito: procurem outra oficina.

O pobre ser bruto, cercado de vida por todos os lados, com asas que abanam arredores que comandam e com simbioses que cantam a música da harmonia dos que se entendem em situações diferentes, esse pobre regato do recato, por força criatória da fonte da criação, criou alma e perdão. E era essa alma a que espreitava da janela dos furos dos olhos da mata. Pobre regato do recato: macho e só e único e . . . era um grávido rio. No seu interior, pela força da germinal doirada, a vida amada concebera o espírito do pavio.

E era esse espírito do pavio o que se acendera de per si como gestação que concebera: o apelo à reprodução era tanto, que a geração espontânea pejou de prenhez bem prenhe o útero da solidão.

Mas, o curandeiro disso entendedor chegou como a nau do amor. Ao espiar pela janela da mata que lhe espiava, viu o porte doirado do ser alado: os lampejos amarelos eram do ouro mais purificado e, disso tudo tendo cuidado, aproximou-se da nau da criação. Em lá chegando, só ele, porque os outros dez não se animavam a passar da ante-sala da relva mais rebaixada, em lá chegando, quando aquietado ao galeão pesado, pelo encontro do tripulante com a nau chegante (sim, não chegara em priscas eras?), a aviação foi concebida em vôo de parto. Dali partiram o comandante curandeiro e a nave do vôo primeiro.

Quem de cima olhava, o furo na dilacerada mata era a moldura das dores do nascimento em frangalhos de folhas dilaceradas e de galhos rompidos. O espírito preso da mata encerrada germinara em vôo do amanhã concebido em grito dorido. Esse grito foram as dores dos aplausos dos seres das cercanias e do lamuriar do vento na cantaria da mata da revoada.

Hoje e agora, o lamuriar do rio já está mais amortecido. E, mais no amanhã, seu canto alegre de barca viajeira será nave primeira: só quererá encontrar o Sol do seu destino e a carruagem da recomposição. Os cílios já ornarão com ornato desavergonhado do bojo prenhe esvaziado.

Como isso entender, de significado na produção no ninho do entendimento dessa original criação?

Ora, ignaros dessas produções, não é sempre dito que a contaminação racional à pobre vida animal é escândalo na gestação? Não é sempre dito que a mistura da usura do ouro do forno na líquida natureza, não é sempre juventude que se eternifica, mas, muitas vezes, é carruagem que mumifica?

É somente quando o cocheiro do envio (o curandeiro vanguardadeiro) se encontra com a fonte da criação, que o útero da gestação é explodido em clareira do nascimento.

 

                       Eu, a Fecundação

 

 

 

Até breve.

 

 

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