Eça de Queiroz, homenagem e um conto com nostalgia
Boa noite.
Com atraso de um dia… aqui ficam algumas palavras sobre Eça de Queiroz.
Na realidade surge uma homenagem que na prática já havia sido dada pelas pessoas que sempre o leram, mesmo hoje. Nunca foi esquecido e, portanto, tem tido a maior de todas as homenagens. Ainda assim, é um marco que faz todo o sentido. O marco é o Panteão Nacional, sem dúvida.
Em primeiro lugar aqui se partilham alguns links noticiosos:
https://www.publico.pt/2025/01/08/video/quatro-anos-espera-eca-queiroz-panteao-20250108-142524
https://www.publico.pt/2025/01/08/culturaipsilon/reportagem/eca-queiroz-escritor-cabeca-ja-panteao-2118104
Fundação Eça de Queiroz: FEQ.PT
https://feq.pt/pagina-inicial-mobile/
No Brasil Escola:
https://brasilescola.uol.com.br/literatura/eca-queiros.htm
É também fundamental hoje falar do seu último romance: A Cidade e as Serras.
Aqui alguma informação:
https://loja.feq.pt/loja-online/a-cidade-e-as-serras-2/
Aqui a possibilidade de pré-visualizar antes da possível compra.
https://www.google.pt/books/edition/A_Cidade_E_As_Serras/fmV7H60Nof8C?hl=pt-PT&gbpv=0
Hoje, adicionalmente, partilhamos um conto por Hanny Ferreira, no qual podemos encontrar um pouco de Eça. Porquê?! Porque contém alguns detalhes descritivos que lhe conferem detalhe e ao mesmo tempo algum sentimento de nostalgia e beleza.
Além dos traços
Maria observava seu retrato desenhado, riscado de intenção em todos os traços. As marcas limpas do grafite na folha, as curvas e círculos perfeitos, mostravam que nada ali era por acaso, que a figura, traduzida no papel, apareceu a ele como o milagre dos raios de sol, atravessando todo o universo; um clarão, feito de vida, despertando a paixão adormecida. Sua gênese.
O dia, nublado, engolia a luminosidade, e ela, afeiçoada a terra, repercutia em si o clima. Entre as nuvens, tentava discernir os sentimentos ocultos. Um desenho feio. Um desenho mentiroso, pois a mostrava sorrindo dum jeito inocente, submissa ao desenhista. Aquela, não era ela. Planificada na folha, pesava muito, e muda, dizia “sim” para os sonhos do moço. Em vida, foi fruto do acaso, de rabiscos despropositais numa folha de rascunho. Em vida, diria “não”,
estavam em pleno inverno.
Nele, nasciam flores brancas e vermelhas. Cravos e rosas no peito aberto. Apossado de efervescência, queria dar a ela faíscas de si. Cultivariam juntos um jardim mais vermelho, mais branco, mais cor-de-rosa. Para que assim, palavras aladas flutuassem na lacuna entre os dois, na distância azul-claro rodopiassem asas de borboleta.
A desenhou com uma coroa florida, sua princesa encantada. E a escutava como se sua fala fosse feita de néctar. Jovem e corajoso, oferecia sua paixão, esperando, em troca, agradecimentos embalsados de mel. A cena dos dois lábios se grudando para sempre, num eterno equinócio, faziam encher os cravos de pétalas leitosas.
Embriagado, recebeu a ventania. Escondeu a íris, da mesma forma que as montanhas
escondem a lua. Fez-se de desentendido. Veio tempestade, porque Maria baixou o queixo, assistiu as gotas de chuva formando círculos numa poça, depois, levantou o rosto.
Por 1, 2 segundos, esperou água sair de seus olhos. Não veio. Sua frieza superava a do mundo.
Segurou o papel pesado desejando que fosse leve. O devolveu.
A tal coroa, de majestade primavera, caia; e, em seu lugar, despontavam chifres de gelo
pontiagudo.
Disse, enfim, “não”.
Saiu do sobrado, seguiu com passos decididos em direção a neblina.
Ele, segurou o desenho, o amassou.
E, enquanto desaguava torrentes, se encolheu, em soluços, pensando na morte anunciada daquelas milhares de flores.
Até breve.