Poesia, Alimentação I, Inspiração
A poesia, podemos dizer, tem algo a ver com a alimentação, na medida em que, em boa medida, é também um ato de saborear. Como curiosidade podemos ler o seguinte poema de Fernando Pessoa, em que “a alimentação surge como algo bebível”.
Bocas roxas de vinho
Bocas roxas de vinho
Testas brancas sob rosas,
Nus, brancos antebraços
Deixados sobre a mesa:
Tal seja, Lídia, o quadro
Em que fiquemos, mudos,
Eternamente inscritos
Na consciência dos deuses.
Antes isto que a vida
Como os homens a vivem,
Cheia da negra poeira
Que erguem das estradas.
Só os deuses socorrem
Com seu exemplo aqueles
Que nada mais pretendem
Que ir no rio das coisas.
(29-8-1915)
http://arquivopessoa.net/textos/2969
Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessa
Alimentação 1
O livro “Desperdício alimentar” (Setembro 2018), por Iva Pires, fala-nos do lixo que criamos ao desperdiçar alimentação, muita dela em bom estado mas que perdemos por fazermos as más opções ou simplesmente por descuido. Muito curioso é referir a escassez e o aumento de preços que surge normalmente em épocas de crise ou convulsão, como a 2ª Guerra Mundial ou a recente Crise Financeira Internacional, ambas a fazer recordar, em parte, a situação que vivemos nos nossos dias com o Covid-19. Até ao momento não podemos dizer que já se tenha verificado um aumento generalizado de preços, eventualmente porque a pandemia ainda é recente ou porque o contexto é muito diferente.
Acresce que no livro ficamos a conhecer uma certa perspetiva das fontes ou causas desta realidade e verificamos que em 2010, 53,6 % deste desperdício, estava diretamente relacionado com as famílias… Ou seja, existe aqui algo em que todos nós podemos contribuir enquanto pessoas autónomas e livres. Podemos, quem sabe, imaginar de novo a nossa forma de cozinhar, por exemplo, e porque não, fritar umas cascas de batata bem lavadas? E quem sabe temperá-las com uma pitada de sal e pimenta? Imaginar de novo a nossa cozinha não tem de ser algo enfadonho, pode mesmo ser divertido! Outra sugestão será fazer iogurtes de sabores, com pedaços, se quisermos, e depois utilizá-los para misturar com chantili e rechear um bolo delicioso!
Não há dúvida que a alimentação é central nas nossas vidas, que nos permite viver biologicamente, e chega mesmo ao ponto de ser responsável por doenças se em excesso (obesidade) ou em defeito (avitaminoses). Todavia, mesmo antes de uma fruta ser comestível, podemos dizer que já nos alimenta, quando contemplamos um campo florido ou respiramos o oxigénio que as árvores frutíferas produzem. Em próxima publicação vamos olhar com algum detalhe para o ato de plantar uma árvore.
Ficam ainda dois poemas “saborosos” e uma imagem inspiradora.
Estrelas novas
Venham estrelas novas
de constelações distantes.
Sonhei estar convosco,
pisar as vossas terras planetárias,
planícies imaginárias,
cores que me acariciam e inspiram.
Imagino-me a sofrer convosco as distâncias
inatingíveis, os planaltos de luz noturna,
os verdes a ser um dia,
o querer sem poder ser além.
Uma água cristalina como a lonjura,
uma verdade plena e doce como o luar.
Por Karina I.:
Sob Pedras e Flores:
Vou colher um canteiro inteiro
Só com as flores que tenho a jogar.
Já que as pedras só me machucam
Ao menos há algo a me consolar!
Porque com pedra sobre pedra
Uma muralha eu já construí
Estou cercada em minha própria cidade
E já não há mais para onde partir.
Jogue flores, quando vierem as pedras
Assim diz o ditame popular
Mas vejam as pedras no meio dos rios
A água passa, e elas continuam por lá.
Versos curtos, versos longos
o que me importa?… ainda há salvação?
Vou rolando com minhas pedras
E assim seguindo, com minha nobre missão:
tecer poesias!
Até breve.