Entrevista a Paula Hawkins na Feira do Livro de Lisboa em 2017
Autora das obras "Escrito na Água" e "A Rapariga no Comboio"
O que ser escritora significa para si?
Escrever é mais uma vocação que uma profissão: sou suficientemente sortuda para poder ganhar a vida a escrever, mas penso que escreveria – tal como sempre escrevi – mesmo que eu não fosse publicada. Desde a infância sempre tive grande prazer em escrever histórias: todavia foi apenas quando cheguei aos meus 30 anos que ganhei confiança suficiente para mostrar essas histórias a outras pessoas, mas a necessidade de criar ficção nunca me abandonou.
Que período da sua vida pensa que mais influenciou a sua escrita?
Possivelmente a fase final da minha adolescência ou os meus vinte anos mais jovens que correspondem ao tempo em que abandonei o Zimbabué, onde cresci, e em que me mudei para Londres, onde vivo atualmente. Esses anos foram agitados, e frequentemente solitários – escrevi muito durante esse tempo. Aos dezanove anos, mudei-me para Paris e vivi lá durante um ano. Essa foi a primeira vez que vivi sozinha, numa cidade estrangeira, a falar uma língua que eu tentava dominar mas com dificuldade. Foi solitário, novamente, mas excitante também.
É possível para um escritor criar o seu trabalho sem ter em conta os sentimentos das pessoas em seu redor?
Penso que talvez seja possível, embora eu não esteja certa que tal deva suceder. Escrever é, para mim, um exercício de empatia, na compreensão dos outros, em ser capaz de se colocar na posição do outro e imaginar os seus pensamentos e sentimentos. Assim, seria estranho, se ao imaginar os pensamentos e sentimentos de personagens ficcionais, ignorássemos os sentimentos das pessoas reais da sociedade em que vivemos.