Neste blog são apresentados conteúdos literários. Para qualquer assunto podem contactar o autor via ruiprcar@gmail.com. Aceitam-se contributos de outros autores, de 4 a 24 de cada mês, relativos ao tema Natureza ou Universo :-)
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Sem dúvida, faz muito sentido agradecer o belíssimo e ritmado poema de Bere Ramos.
Se este trabalho não existisse, é bem provável que neste blog o trabalho de Cora Coralina nunca tivesse a devida atenção. O que seria uma falta enorme.
Fica aqui um poema por Cora Coralina, que nos evoca a terra, a natureza e a sua beleza forte e dominadora.
O Cântico da Terra, por Cora Coralina
Eu sou a terra, eu sou a vida. Do meu barro primeiro veio o homem. De mim veio a mulher e veio o amor. Veio a árvore, veio a fonte. Vem o fruto e vem a flor.
Eu sou a fonte original de toda vida. Sou o chão que se prende à tua casa. Sou a telha da coberta de teu lar. A mina constante de teu poço. Sou a espiga generosa de teu gado e certeza tranqüila ao teu esforço. Sou a razão de tua vida. De mim vieste pela mão do Criador, e a mim tu voltarás no fim da lida. Só em mim acharás descanso e Paz.
Eu sou a grande Mãe Universal. Tua filha, tua noiva e desposada. A mulher e o ventre que fecundas. Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.
A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu. Teu arado, tua foice, teu machado. O berço pequenino de teu filho. O algodão de tua veste e o pão de tua casa.
E um dia bem distante a mim tu voltarás. E no canteiro materno de meu seio tranqüilo dormirás.
Plantemos a roça. Lavremos a gleba. Cuidemos do ninho, do gado e da tulha. Fartura teremos e donos de sítio felizes seremos.
E ainda a frase:
"Fiz a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores."
Mais informação sobre a autora e sobre o seu trabalho em:
https://www.pensador.com/autor/cora_coralina/
e
https://www.ebiografia.com/cora_coralina/
Em tempos de Verão, para os leitores no Hemisfério Norte, fica aqui uma sugestão de leitura que nos remete para as Levadas da Madeira mas no Centro de Portugal Continental... Surpreendente.
É com alguma melancolia, que verifico que se aproxima o Natal e sobretudo o final do ano de 2021. Este ano foi marcado por várias situações de saúde desagradáveis para as quais muito contribuiu a Covid-19. Todavia, a poesia resistiu.
A Antologia Natureza, no seu primeiro volume em papel, o Número 0, contém, entre muitos outros trabalhos o seguinte por Luís Amorim. “As Tribos” fala-nos de beleza e natureza, aves e pessoas, criando um texto com um toque de “magia”.
As Tribos, Luís Amorim, Portugal
Tantas árvores desciam pelos vales que tínhamos pela frente num postal de beleza paisagística a fazer jus ao que de melhor a natureza poderia oferecer. Com ela a fauna ia voando parecendo não ter poiso certo ou talvez querendo apreciar toda a envolvência tão natural. Atentamente observámos até surgir a pausa de aves onde escolha recaiu. Foi numa das partes mais verdejantes e com ausência de humana intervenção. Mais à frente, onde boa opção de fauna não se verificava para o poiso que atrás referimos, o ser humano já lá deixara marcas suas. Não eram pegadas simples, antes complexos vestígios onde não nos era possível vislumbrar começo e fim, muito menos divisões individuais. A tal fauna tinha na envolvência do poiso dito toda a flora que necessitava enquanto na rejeitada zona nada tinha que a pudesse cativar, para além da sua natural aversão ao que os humanos costumam apelidar de progresso. Em vias de chegar a ele ou do nosso recatado dito posto narrativo, em trânsito para o seu destino caso surpresas não se antecipassem. Tribo ali por diante decidiu que o melhor caminho para o progresso tão indispensável chegar seria a subtração de natureza e nestes tempos últimos antes de nós aqui chegarmos para a narrativa, trataram de fazer das suas que é como quem diz «Isto agora tudo nosso é e nem sequer pausa iremos fazer pois fauna não somos nem flora precisaremos.» Mas como em parte qualquer que o mundo tenha, tribos nunca irão faltar, pensando diferente umas das outras. E se houve tribo que antes deu aval para o que se passou por ali no antes, tribo nova surpreendeu-nos porque já vinha a caminho numa longa comitiva para o desfazer tido como tão urgente. Até se questionavam entre eles, os membros efetivos tidos como de direito à admissão que igualmente acontecido tinha no antes da chegada nossa, sobre a presença de artefactos sem falta. Sim, porque para desfazer o mal que vinha de um atrás, longínquo não muito, preciso ser poderia uma série de ferramentas que porventura no inicial momento do que ali constava não foram chamadas à presença. Legislativamente tudo no tratado se encontrava e a fauna até bem aplaudia como se tivesse lido o legislativo manuscrito que também vinha na comitiva. Esta como foi dito ou escrito um pouco mais atrás, longa era pois a primeira secção era a tribo do desfazer e a segunda constante era a tribo do fazer pois que a natureza requer sempre uma intervenção ativa para o crescimento que vem sempre depois do verbo semear. E a do fazer, informados fomos no a seu tempo devido, também era acertadamente designada por tribo do semear. A fauna alegremente voava pois antecipava o que aconteceria no futuro quase a dar-se como presente, até pelo debandar da tribo primeiro apresentada, discretamente pelo lado oposto, eventualmente com diversas compensações, mas isso já a fauna lido não tinha no tal manuscrito que acompanhava a comitiva.
Por hoje, apresenta-se apenas com outro poema, um clássico, talvez possamos dizer, escrito por Sophia, através do qual ela nos fala da nostalgia de não contactar com a natureza quando se vive numa cidade. Afinal, muitos de nós somos hoje cada vez mais impedidos de ter um tempo de qualidade em contacto com a natureza, e eventualmente, incapazes de perceber o quanto esta pode sofrer com a nossa ação pouco inteligente, por exemplo, ao usufruir de uma alimentação pouco equilibrada e/ou excessiva, algo que, a ser analisado, seria com uma análise longa.
A Cidade, de Sophia de Mello Breyner Andressen, Livro Sexto
Cidade, rumor e vaivém sem paz nas ruas,
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e existem praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes e não vejo
Nem o crescer do mar nem o mudar das luas.
Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes.
Para terminar, talvez por este ano, com uma música de Caetano Veloso, que todos reconhecemos e que nos fala de leões, ou seja, nos fala de natureza de uma forma poética.