Poema - "Va pensiero…" por Regina Gouveia (Brasil/Portugal)
Va pensiero…
Outrora, cruzavam os mares barcos negreiros apinhados de gente
espoliada de tudo- dignidade, crença, família, nome, terra.
Na bagagem levavam apenas revolta e saudade.
Oh mia patria, sì bella e perduta!....
Não imaginavam para onde iam, não sabiam por que razão partiam.
Esperavam-nos o tronco, as minas, os engenhos, a violência,
a discriminação, a mais desumana crueldade.
Di Sionne le torri atterrate …
Hoje, outro mar, outros barcos, igualmente apinhados de gente.
Fogem da violência, do terror, do medo, da fome, da guerra,
Levam na bagagem a esperança de uma vida decente.
O simile di Solima ai fati, traggi un suono di crudo lamento…
Por vezes cúmplices, tempestades, ventos indómitos,
mar revolto e sobranceiro, ondas altivas, poderosas,
tragam, vorazes, barcos e vidas, num repente.
Arpa d'or dei fatidici vati, perché muta dal salice pendi?
Hoje, como outrora, Neptuno, Poseidon, Éolo e outros deuses mais,
não importa a heteronímia, assistem impassíveis a toda a ignomínia.
Hoje, como outrora, indiferentes à brutalidade e ao horror,
homens oprimem outros homens sem o mínimo pudor.
Efémero poder…. Extinguir-se-á na inevitável hora da partida.
Va pensiero sull'ale dorate.…
Qual bálsamo, a música de Verdi permanecerá dulcificando a vida.
Até breve.