Neste blog são apresentados conteúdos literários. Para qualquer assunto podem contactar o autor via ruiprcar@gmail.com. Aceitam-se contributos de outros autores, de 4 a 24 de cada mês, relativos ao tema Natureza ou Universo :-)
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Albbano chegou cedo ao “Fetal”, com o coração de sangue frio em agonia. Na véspera, vários dos seus torossauros poedeiros davam mostras de mal-estar e doença. Alongou o olhar pelo extenso paúl em que habitualmente pastavam e não pôde evitar o desalento. Só meia dúzia ainda era visível. Em ansiedade, apressou o passo para a chocadeira central. O sol iniciava o percurso descendente sobre a área predominantemente agrícola que será conhecida, sessenta e cinco milhões de anos depois, por Lourinhã e se estende bem para dentro do espaço que será mar no futuro. Em todos os ninhos urbanos terminaram já as diligências alimentares do período zenital, exceto no ninho de Albbano. Não é comum ele atrasar-se, quanto mais não aparecer em tempo de tão vital necessidade. Almmina mantinha quentes as fatias de ovos de anquilossauro com caules tenros de rhynia, enquanto, inquieta, espreitava o caminho, na esperança da chegada iminente do companheiro. A certo momento, achou que tamanho atraso não podia significar nada de bom e resolveu pedir ajuda ao filho de ambos, através do comunicador. Alccino não se surpreendeu com a chamada da mãe, porque era frequente ela ligar-lhe só para contar pequenas peripécias domésticas, mas quando ouviu a voz angustiada da mãe a dizer que o pai ainda não chegara para se alimentar, entregou de imediato as tarefas de extração salina que executava numa bacia marinha interior e correu a procurar o pai. Já não era a primeira vez que ele se perdia ou dava sinais de desorientação. — O teu pai saiu do ninho mal raiava o sol e disse que ia ao Vale Fetal, como todos os dias — informou ela. — Estamos na época em que eclodem muitos ovos e é preciso não haver descuidos com as dificuldades das crias. — Está bem, mãe, não te preocupes que eu vou procurá-lo. Assim que o encontrar, comunico contigo — sossegou-a ele. Alccino transpôs rapidamente a distância até à exploração pecuária do pai. Com o olhar percorreu as suaves ondulações cobertas de polipódios, onde pastavam pachorrentamente uma dúzia de torossauros, e a tentar discernir que animais chafurdavam na lonjura dos paúis das zonas baixas. Não viu a silhueta altiva do pai, um parassaurolofo corpulento, mas um pouco dobrado pela idade. Entrou na chocadeira central, e os funcionários disseram que o tinham visto cedo, mas que ficara abatido quando soubera de mais três eclosões goradas.
Alccino pediu a dois para, em conjunto, fazerem uma busca na exploração. — Eu vou pela encosta do lado esquerdo, e vocês procurem no vale, junto à zona húmida! A propriedade é grande e ele pode estar caído em qualquer lado. Embora achasse que era mais provável encontrá-lo nas zonas baixas, pensou que, em cotas mais elevadas podia avistar maiores distâncias e descobri-lo. Após um tempo de caminhada atenta pela vertente da ladeira, alcançou o alto da colina. Cheiros adocicados embebiam-no. Por momentos, abstraiu-se do que o trouxera ali. Olhou em toda a volta. Para norte, a vista admirável e querida do seu Vale Fetal, com o verde de vários matizes a colorir a distância até à vertente oposta e mais além. Para sul, a dois vales de distância, as manchas redondas e ocres dos ninhos urbanos da povoação. Mais perto, os vales dos vizinhos e amigos Olvvonos e as suas explorações pecuárias de alamossauros, os enormes herbívoros ternos e pachorrentos. Seria possível que o pai tivesse vindo visitar os amigos? Antes de decidir procurálo junto dos vizinhos, pensou entender o que acontecera. O pai tinha ficado desanimado com as notícias da manhã na chocadeira e, com a idade, isso desorientara-o. Veio-lhe à memória outro episódio de há muitos anos, quando uma epidemia lhe matara dezenas de animais. Nessa altura, foram encontrá-lo amodorrado numa enorme rocha lisa virada ao sol do oeste, donde se avistava o mar e aonde só se chegava por uma vereda. Avisou a mãe e pôs-se a caminho. Realmente foi encontrar o pai alapado na Pedra do Poente em grande prostração. A crista, habitualmente alaranjada, era agora cinzento-esverdeada. Não parecia ferido, só abatido. Aproximou-se suave, mas não furtivamente. Queria ajudá-lo, não invadir a sua privacidade. — Então, pai! Está aqui! Estávamos a ficar preocupados... Não obteve reação. Albbano mantinha um olhar de enorme tristeza perdido na lonjura. Nada parecia poder animá-lo. — Não fique assim, pai! — disse Alccino cheio de ternura. — São só mais três ovos gorados. Já aconteceu muitas vezes. O rosto do ancião baixou, em dor interior, sem responder. — Tem de aceitar, pai! Os tempos de fartura e fertilidade já lá vão. Este é o mundo que temos agora. Alccino comunicou com a mãe a sossegá-la e continuou a tentar animar o pai, com argumentos racionais de relativização dos prejuízos. Finalmente, Albbano começou a falar em voz baixa, pausadamente. — Não são só mais três ovos gorados, filho! Nós estamos a extinguir-nos. O ambiente está envenenado com os compostos de irídio que servem para tudo. As crias não conseguem
romper a casca. Está cada vez mais dura e inquebrável. E não é só com os animais. Como já te contei algumas vezes, para tu nasceres, houve que quebrar a casca artificialmente. Nós, os parassaurolofos, praticamente já só nascemos de crustatomia. Se não fossem os cuidados obstétricos, desaparecíamos. O panorama geral é preocupante. As crias não conseguem romper a casca, os ovos não são fertilizados, as populações de todas as espécies estão a diminuir a um ritmo assustador. Todos os anos desaparecem muitas espécies para sempre. Calou-se, por momentos, como que a lembrar-se de outros exemplos. Alccino respeitou o silêncio do idoso. — A destruição da vida no planeta, tal como a conhecemos, está a tomar proporções gigantescas. Dantes, além, avistava-se o tremeluzir da superfície do mar. Agora, o que se vê são reflexos de objetos a flutuar. Mantas de tralha a cobrir enormes áreas de oceano. Há quanto tempo lá não vais? É triste, deprimente, apetece não voltar lá mais. Como nos deixámos chegar a esta situação? Estamos mesmo em perigo, acredita! Fez uma pausa, a ganhar alento. — Eu vou-me informando, sabes! Recebo revistas científicas. Já houve outras épocas da Terra com indícios semelhantes e que resultaram em enormes extinções. A maior foi há 185 milhões de anos, que fez desaparecer 96% das espécies marinhas e 70% das terrestres. Devido à gravíssima situação que atravessamos, os cientistas já lhe chamam a Extinção em massa do Cretácico, a época atual, ou a Quinta Extinção. Estão registadas cerca de 800 espécies extintas, nos últimos quinhentos anos, mas, como a maioria não está documentada, os cientistas calculam que é mais provável que se tenham extinguido entre vinte mil e dois milhões de espécies, só no último século. E, tendo em conta os limites do conhecimento atual, a taxa anual de extinção pode chegar às 140.000 espécies. Estamos no limiar da catástrofe. Alccino agachou-se, abatido pela força terrível dos números que o pai lhe atirava. A preocupação com o desaparecimento do progenitor desvanecera-se, mas agora um peso inesperado acabrunhava-o. Como era possível que nunca tivesse ouvido falar disto? — Percebes, agora, porque estou desanimado, sem esperança? — interpelou-o Albbano. Há muito que me vou dando conta do que os cientistas vão divulgando. — Mas, pai — reagiu Alccino —, não são só teorias malucas de tipos que veem um mosquito e lhes parece um alamossauro? É que eu nunca ouvi falar disso… — Não, Alcci, quem afirma que a extinção atual é um facto são cientistas conceituados entre os seus pares. Dão conferências, mostram dados, mas parece que ninguém os ouve. E dizem mais; dizem que somos nós — a espécie dominante —, que estamos a provocar a extinção em curso. Com a caça intensiva, a introdução de organismos perigosos para os nativos, a destruição dos habitats naturais, a desflorestação, a sobreexploração agrícola, a poluição e o envenenamento com agrotóxicos e hormonas pecuárias. Isto, sem falar do problema que está na raiz de todos estes: o crescimento populacional contínuo da nossa espécie e o consequente sobreconsumo. — Mas sempre houve espécies a desaparecer de maneira, digamos, natural, pela natural seleção natural… — Sim, só que com a nossa ação, a que alguns também chamam natural, mas de extensão e intensidade avassaladoras, a perda de biodiversidade é dez a cem vezes mais rápida. E seremos nós que acabaremos por pagar um preço demasiado alto, pela rápida diminuição do único conjunto de vida que conhecemos no Universo. Ficaremos sozinhos.Sem a concorrência que vencemos, extinguimo-nos também. — Isso não pode ser assim tão dramático, pai. Nós somos a espécie mais bem sucedida de toda a história do planeta... — Este sucesso começa a parecer demasiado catastrófico. Quando há tipos que, como eu, prestam atenção aos problemas ambientais, também não sabem como resolvê-los ou ajudar a minorá-los. A minha “solução” hoje foi esta: deprimir-me. A da nossa espécie devia ser positiva, assertiva, concertada, global, muito profunda. Eu não quero mostrar-te para onde deves olhar, só gostava que tomasses consciência de que há muita coisa a distrair-nos e que nos deixamos alegremente ocupar com problemas menores. A maior razão da minha desesperança é que não acredito que algum dia consigamos inverter o caminho de razia que trilhamos. Quando deteriorarmos o planeta a um nível irreversível, seremos nós a extinguirnos. Ironicamente, essa pode ser a solução para o planeta: livrar-se de nós. Albbano calou-se. Pai e filho mantiveram-se pensativos ainda por algum tempo. Talvez por ter desabafado, Albbano começou a sentir-se com forças para regressar. Em passos brandos, porque já anoitecia, dirigiram-se para casa, em silêncio. Por cima do horizonte, ia nascendo o cometa, que, havia meses, iluminava as noites em todo o mundo. A enorme cauda ocupava já todo o lado nascente do céu. Caminhando para aquele clarão, pareceu-lhes que a esperança num mundo renovado aumentava no seu ânimo.
Hoje apresentamos um conto por Luísa F. (Portugal) o qual foi premiado na Antologia Natureza 2018-2019. Nestes tempos de pandemia, recomenda-se cuidado na proximidade social em qualquer circunstância, de tal forma que as nossas vidas não sejam ainda mais afetadas. Neste momento, já temos a esperança de uma vacinação algures nos próximos meses.
Recomenda-se a leitura do conto “Ilha de Santa Luzia”.
Ilha de Santa Luzia
Quando me sentei, senti-os moverem-se debaixo das minhas pernas, sem os ver, verdadeiramente, como se fossem transparentes; chamavam-lhes caranguejos fantasmas por terem a cor da areia fina e se confundirem com o ambiente. Tive a clara impressão de estar em família e a sensação estranha de já ter estado naquela ilha, a única com nome de santa no arquipélago das ilhas Afortunadas. Por respeito a esses fantasmas tão familiares, por medo do ridículo, mas também por ignorância, não me atrevi a falar no assunto ao meu pai, Branco (apesar de ser um ilhéu muito tisnado) e um dos biólogos daquela pequena expedição. Pedro era o seu assistente e tinha como missão principal a proteção da cagarra de Cabo Verde, uma ave que nidifica no ilhéu vizinho e que o seu próprio pai tinha caçado durante trinta e cinco anos, assim como muitos outros pescadores, por se tratar de uma atividade tradicional. Milhares de crias foram dizimadas nessa época, e não apenas as cagarras mas também os rabos-de-junco, com as suas longas caudas, os alcatrazes, parecendo cavalheiros de nariz comprido, as almas-negras de plumagem escura...que eram depois vendidos como cagarras. Pedro achava que tinha uma dívida pessoal perante a natureza, contraída pelo seu pai; mas, no seu entender, cabia-lhe a si e aos outros jovens devolver à ilha essas espécies quase extintas. A minha história começara muitos anos antes de eu nascer, mas os episódios mais marcantes que recordava da infância eram os pesadelos frequentes com enormes gatos e ratos vindos sabe-se lá de onde, que engoliam crias de aves cujos ninhos estavam encravados na terra como pequenas manjedouras ou berços de palha. O pediatra da altura descartou a hipótese de apneia do sono mas tentou inteirar-se da nossa história familiar. Não foi difícil para o meu pai, solteiro e dedicado, perceber que a explicação se encontrava naquele espantoso lugar, que visitaríamos um dia. Explicou-me o que eram animais exóticos: — Não são, como pensamos, aqueles animais estranhos e com um aspeto diferente, fora da rotina e muito extravagantes, sabes? Quer dizer, não são só esses; exóticos e invasores, para nós, são animais que vêm de outros sítios, de outras terras e climas, estranhos à forma de vida da terra onde nos encontramos. Exótico, como emigrante ou imigrante, como estrangeiro, está relacionado com o nosso ponto de vista. O meu pai não sabia exatamente o que era ser criança, porque ele próprio tinha sido criado assim pelos meus avós, Luzia e Vicente. Quando as explicações se alongavam, eu adormecia ao som das suas palavras, do alto dos meus seis anos, sabendo que nessa noite não voltaria a ter pesadelos mas talvez sonhasse com belas aves, com peixes-agulha e peixes-voadores muito curiosos e ágeis, com águas cristalinas através das quais se viam os nossos próprios pés e o fundo do mar. Luzia era uma mulher falsamente seca e voluptuosa, que tinha abandonado a ilha na década de 1970 com Vicente, quando ambos andavam pelos trinta. Não se sabe em que circunstâncias se terão lá fixado, pois fizeram segredo disso até à hora da partida, que ocorreu de forma misteriosa, depois de terem criados os dois filhos, Branco e Raso, cujos nomes homenageavam os ilhéus vizinhos (os outros dois integrantes da reserva natural), formando o que se tornaria, em 1990, património público, em conjunto com a ilha de Santa Luzia, deserta, mas não solitária, ou, por assim dizer — deserta por deixar de sê-lo. Nessa época já os dois irmãos tinham atingido a maioridade. Acontece que a minha avó não engravidava porque a ilha estava interdita à presença humana, salvo raras exceções, como eles, alguém que se batesse pelas espécies nativas; mas ainda assim a santa exigiu que em troca da promessa de fertilidade o casal batizasse os filhos com os nomes dos ilhéus circundantes, que seriam para sempre os seus orientadores de carácter e mentores, quando os pais já não pudessem cumprir essa função por darem por terminada a sua vida terrena (depois de se terem banhado em águas claras e convivido com as mais magníficas espécies de aves da região, e aprendido a dar os bons dias aos caranguejos-fantasmas). Os filhos vieram, assim, após inúmeras preces, depois de Vicente ter subido à Topona, o ponto mais alto da ilha (quase quatrocentos metros acima do nível do mar) e aí ter rogado a Santa Luzia que os abençoasse com descendência. Vicente parecia por vezes um pouco distante, porque reservado, mas podia mostrar-se também muito próximo, afetuoso e atento aos detalhes. Luzia juntara-se ao marido nessas preces, apesar de estar cada vez mais convencida de que era estéril; mas quando abandonaram a ilha tinham a certeza de que seriam pais em breve. Santa Luzia era quem lhes poderia valer, por ser mulher, por ser santa e por ser, também ela, desabitada de seres humanos. Branco, o meu pai, ao contrário do meu tio, sempre tinha sido um cético e escusava-se a falar de coisas que não pudesse explicar pela ciência, mesmo que fizessem parte da sua história. A verdade é que oito meses depois dava-se ao mundo, já com um tufo de cabelo como uma crista rochosa, e nove meses mais tarde nascia o tio Raso, à distância de um olhar. Os dois irmãos sempre se distinguiram em tudo, no feitio, no aspeto, nos interesses. Raso protegia dezenas de aves marinhas que sobrevoavam as arribas aproveitando a riqueza das águas que circundavam o seu patrono, de relevo quase predominantemente plano, e seis espécies diferentes que aí construíam os seus ninhos. Era cada uma mais bonita que a outra. O meu tio era um homem pequeno e castanho, mas bastavam três dias de chuva para lhe converter o ar apagado numa exuberante alegria. Já o meu pai tinha como mascote o lagarto-gigante, o qual, felizmente, nunca se fez presente nos meus sonhos; constava que tinha sido extinto no início do século XX, no entanto ele mantinha a convicção de que alguns espécimenes pudessem ter sobrevivido nos rochedos escarpados do ilhéu Branco, seu homónimo e padrinho. Pedro e eu fomos dar uma volta pelos ilhéus antes de darmos por findo o dia em Santa Luzia; contei-lhe dos meus pesadelos com gatos e ratos e ele confidencioume que começavam a ser um problema na ilha. Eram espécies exóticas — e não pude deixar de sorrir ao lembrar-me das explicações detalhadas do meu pai. Falei-lhe nos meus avós e com surpresa constatei que era um assunto do qual não tinha o menor conhecimento. O meu pai não falava da família, era austero e reservado, com um temperamento acidentado e espinhoso, a léguas do seu irmão, plácido e previsível. Pedro apenas conhecia a lenda — a história que se contava entre os pescadores — segundo a qual nos anos 1970 o casal que ali vivia tinha abandonado a ilha de Santa Luzia. Dizia-se, em conversas de homens do mar, que eles talvez não tivessem dali saído e que ainda hoje andariam disfarçados de caranguejos confundindo-se com o vasto areal para permanecerem em paz. Fiquei arrepiada com aquela interpretação que assumi como uma revelação, uma vez que eu própria já o tinha intuído. Mais um assunto que o meu pai não entenderia. Estávamos em 2014, quando eu acabara de cumprir vinte anos e terminava uma licenciatura em Biologia Marinha. Pedro mostrou-me as pequenas calhandras do Raso e os seus ninhos no solo e eu tive que confessara-lhe que o meu pai sempre me pedira que desse continuidade ao seu trabalho na proteção dessa e de outras espécies exclusivas da região, que chamávamos endémicas. Tal como as tartarugas-marinhas, também essas espécies estão em vias de extinção, principalmente por causa da predação humana. Santa Luzia era um local onde se fazia caça indiscriminada, longe dos olhares indiscretos, mas agora também os pescadores estão sensíveis aos problemas ambientais e ajudam a protegê-las. Entretanto os turistas não são ainda bem-vindos, assim como no tempo em que Luzia e Vicente ali conceberam o seu primeiro filho. Voltámos finalmente a Santa Luzia e junto com o resto da equipa rumámos a São Vicente, mesmo em frente. Pedro e eu fomos ficando cada vez mais próximos e decidimos acampar em Santa Luzia, completamente isolados, enquanto tentávamos perceber como varia a fauna da região e procurávamos conhecer-nos melhor. O meu pai acatava tudo o que fosse para o bem da região e das espécies endémicas, porém reagiu com alguma desconfiança.
Prometemos trazer-lhe resultados em breve, para o convencer. O biólogo concordava mas o pai resistia. A nossa rotina incluía a vigilância de ninhos de cagarras para verificar o crescimento das crias. Pedro e eu pesámos criteriosamente todas essas pequenas aves e sei que, nessa agradável rotina, ele sentia que resgatava a dignidade do pai. A ilha já não era deserta, mas tampouco era habitada: nós fomos privilegiados por, durante alguns dias, poder acompanhar o pulsar da vida naquelas paragens. Agora fazemos idas e vindas regulares com os pescadores, sem o pai de Pedro, que já cristalizou no fundo do mar. Tentamos reintroduzir a raríssima calhandra em Santa Luzia, essa ilha que nos habita e que apadrinha a nossa descendência.
Em dia de viagem a Marte, ficamos como uma viagem aos sentimentos terrestres. Algo muito importante e talvez mais marcante.
"A Borboleta e o Pássaro"
Era uma vez uma borboleta. Linda como as manhãs de primavera e colorida como as flores do jardim. Ela morava com sua mãe num canteiro florido, por onde voava, toda orgulhosa de suas asas aveludadas e de seus rodopios pelo ar. Quando pousava, os raios de sol, batendo no colorido de suas asas, produziam um brilho especial que deixava todas as flores morrendo de inveja. Essa borboleta chamava-se Céu. Sua mãe lhe deu esse nome por causa do efeito azulado de suas asas ao sol. Céu era muito esperta, passava o dia todo voando de flor em flor e fazendo peripécias de borboleta pelo ar. Mas ela não tinha amigos. No canteiro havia formigas, lagartas, famílias inteiras de joaninhas e besouros. Mas a linda borboleta não queria saber de ninguém. Achava que ser amiga de seres tão inferiores não ficava bem para uma borboleta tão linda e especial. Céu achava que era a única borboleta linda de toda a face da terra e que nenhuma outra borboleta ou bicho pudesse se comparar a ela. Quando saía de casa, de manhã bem cedinho, para pegar os primeiros raios de sol nas asas coloridas, Céu nem prestava atenção ao dia que nascia, ou na água do lago, ou no orvalho que refrescava as flores, ou no canto dos pássaros. Ela só se preocupava em aparecer bela e formosa mais uma vez e arrancar suspiros por onde passava. Todos que moravam no canteiro realmente a achavam especial e maravilhosa, e tinham até medo de chegar perto dela porque Céu era tão orgulhosa que, das duas uma: ou ignorava completamente o coitado que quisesse falar com ela ou dava uma resposta atravessada, malcriada mesmo. E lá se ia embora, toda emproada. E assim o tempo ia passando. Até que, certa vez, numa manhã ensolarada, como de costume, Céu saiu de casa para o seu passeio matinal. Passando pela alameda das azaleias, ouviu algo estranho, como um farfalhar de asas. E o barulho não era de asa boa, que pode voar, era de asa machucada, se arrastando pelo chão.
Céu não aguentou a curiosidade e resolveu investigar. Foi voando bem baixinho, no meio do canteiro, sem fazer nenhum ruído, bem suave, até que o barulho ficou bem perto. Ela continuou voando em completo silêncio, até que, ao sair detrás de uma grande folha, viu um pássaro no chão, lutando para levantar voo, sem conseguir. Uma de suas asas estava machucada. Céu pensou: "Se eu chegar muito perto, ele pode querer me devorar. Mas se eu não for até lá, não vou saber quem é ele. E ele também não vai saber quem sou eu!". Assim, orgulhosa como sempre, Céu se aproximou do pássaro que, ao vê-la, fez aquela cara que todo mundo fazia quando via a linda borboleta pela primeira vez. Ela percebeu a cara de admiração do pássaro e ficou radiante, tomando confiança para chegar ainda mais perto. - Olá! Meu nome é Céu! - foi logo se apresentando. - Nome bonito. O meu é Flauta - disse o pássaro, com uma ponta de dor na fala. - O que aconteceu com você? - quis saber a curiosa. - Eu machuquei minha asa. Não vi a cerca e vim voando muito depressa. Quando percebi, já estava em cima dela e... levei o maior tombo! - disse o pássaro e deu um trinadinho de dor. - Ah, coitadinho! - disse Céu, sem nenhum pingo de sinceridade na voz. - Pois é. Agora preciso me arrastar para um lugar mais seguro até minha asa sarar. E o problema é que enquanto eu não conseguir voar, não vou conseguir encontrar comida nem água. E pode demorar um bocado até eu ficar bem o suficiente. - Eu posso te ajudar - falou a borboleta. - Pode? Como? - Bem, eu posso encontrar um bom lugar para você ficar, aqui perto, e trazer um pouco de comida. - Puxa! Isso seria muito bom! - animou-se o pássaro. Claro que a intenção de Céu não era só ajudar o pássaro ferido, mas, assim, ela poderia ver a sua expressão de admiração toda vez que viesse vê-lo. Já estava cansada das mesmas caras que olhavam para ela todos os dias no canteiro. Ele era alguém novo e isso a deixava mais envaidecida ainda. Não era um pássaro bonito, mas, pelo menos não eram aqueles bichos chatos do canteiro.
E assim, Céu se despediu do forasteiro, depois de arranjar um lugar mais escondido, onde ele pudesse ficar sem perigo, prometendo voltar mais tarde com um pouco de água e comida. E saiu radiante, já pensando em que piruetas podia fazer, quando voltasse, para deixálo boquiaberto. Foi até em casa, pegou um pouco de água e comida e voltou para o lugar onde havia deixado o pássaro. Ele ainda estava lá, com a asa machucada, mas quietinho num canto. - Olha, eu não consegui trazer muito, mas acho que é o suficiente. - Muito obrigado, linda borboleta - disse o pássaro, fazendo um elogio à sua benfeitora. - De nada - respondeu Céu, se enchendo de orgulho. E assim, os dois passaram o dia juntos, conversando. Quer dizer, só Céu falou, contando todas as suas peripécias dentro do canteiro, de como os outros bichos admiravam sua beleza, de como ela tinha nascido linda, do porque sua mãe colocou esse nome nela, de quando ela foi pedida em casamento pelo feioso Louva-a-Deus. O pássaro prestava muita atenção nas histórias contadas pela borboleta e ia imaginando as cenas. Às vezes ria junto com ela de alguma parte engraçada ou apenas suspirava quando ela falava da admiração dos outros bichos. E, aos poucos, foi percebendo que a linda borboleta era um tanto egoísta, vaidosa e orgulhosa, e que não se importava muito com os outros. Mas resolveu ficar calado porque não queria perder a nova amiga. Ouviu com paciência suas histórias naquele dia e no outro e no seguinte, esperando que sua asa ficasse boa para ir para casa. Em todos esses dias, a borboleta sempre vinha, no mesmo horário, e trazia um lanche. Quando ela começou a se cansar de contar as mesmas histórias, ele resolveu contar um pouco de suas aventuras no mundo lá fora do canteiro. E contou sobre um lago muito grande onde moravam peixes de todas as cores, e sobre os grandes animais da floresta, e as árvores que dão frutos maravilhosos e tão diferentes que não acabam nunca, e de outros pássaros com seus cantos tão bonitos e suas penas de cores vibrantes... Céu foi ouvindo tudo e ficando cada vez mais incomodada. Como assim? Então existiam, fora do canteiro, outros bichos e plantas que eram tão ou mais bonitos e interessantes do que ela? Isso não podia ser verdade. Devia ser história daquele pássaro maluco, ela pensou. Mas o pássaro continuava contando suas histórias. Agora falava de outras terras onde havia bichos muito diferentes, frutas exóticas, águas limpinhas e frescas, flores gigantes e animais minúsculos. E Céu pensava: "mas como eu nunca soube de nada disso? Então o mundo não é igual ao canteiro?" E uma coceirinha foi tomando conta de Céu, uma vontade de conhecer aquelas coisas todas que o pássaro estava contando, uma comichão de saber mais, de ver com os próprios olhos.
E foi assim que, numa tarde, o pássaro achou que já era hora de experimentar a asa machucada, para ver se conseguia voar. Preparou-se, deu um impulso e... conseguiu! A asa estava boa. Céu olhou para o voo do pássaro e sentiu uma pontada estranha, uma dorzinha bem fininha lá dentro de si. Achou esquisito e se assustou um pouco. Nunca havia sentido nada parecido. Mas ali, olhando o pássaro alçar voo, preparando-se para retomar seu caminho e ir embora, Céu sentiu que não queria ficar longe dele. Ela não entendia muito bem ainda, mas estava com medo de sentir saudades, pois não sabia o que era isso. Era a primeira vez que sentia medo de que alguém lhe fizesse falta. Quando o pássaro pousou ao seu lado, Céu estava murcha. O pássaro notou sua tristeza. - O que foi? - perguntou preocupado. - Você já está bom, agora pode ir embora... - disse, numa voz sumida. O pássaro, enternecido pela tristeza da nova amiga, abraçou-a com cuidado e disse: - Sempre seremos amigos. Eu virei visitar você e poderemos sair por aí, conhecer outros lugares, beber água fresca do rio. Olha, eu sou muito grato por sua ajuda, mas preciso voltar. Tenho um mundo inteiro para voar... Mas a nossa amizade nunca vai acabar, eu prometo. Um meio sorriso se abriu no rosto de Céu. Um sorriso que era um misto de dor, alegria, tristeza, saudades... mas sem nenhum pingo de vaidade ou de orgulho. Céu também não sabia disso, mas a amizade com o pássaro tinha mudado alguma coisa dentro dela. Então o pássaro se preparou para ir embora. Os dois se despediram com muito carinho, prometendo se encontrar em breve. Como lembrança, Céu deu a ele um ramo de miosótis, que o pássaro guardou. - Até breve, querida amiga. - Até breve, querido amigo. E antes de levantar voo, o pássaro também deu seu presente a Céu. Um presente tão maravilhoso que ela nunca mais esqueceria. Não era nada de guardar, nem de comer, nem de pegar. Não era sequer algo que ela pudesse mostrar para alguém. O pássaro se ajeitou no galho de azaleia e cantou. Um canto tão doce, tão terno, tão magnífico que Céu sentiu como se o verdadeiro céu tivesse descido na terra. E então ele se foi. E Céu finalmente entendeu porque seu nome era Flauta. Ele era um rouxinol.
Como um pedaço de vida perdida, que não podemos recuperar... Assim é o Natal 2019 em todos nós. Não é só em Lisboa, como na foto "tremida" que aqui vos deixo, mas em todo o lado.
Enquanto que em alguns pontos do país e do mundo, a tragédia do Covid-19 é ignorada, como se não existisse, ficam nos limites dos nossos medos (ou da minha esperança ?!) as possibilidades de termos outro Natal assim este ano.
Como era tão bom e não pudemos reconhecer... quanto tempo perdido com "nadas".
Este ano, mesmo a Feira da Luz em Carnide (Lisboa) tem claras preocupações ambientais, com o controlo de resíduos. Como é habitual, a sua localização próxima de transportes públicos, facilita o acesso a todos que desejam fruir dos seus eventos culturais e animação indicada para todos os que desejam fazer compras e divertir-se, integrados no belo Jardim da Luz.
Hoje, é também o dia em que Roberto Leal partiu... Vítima de cancro (como se diz em Portugal) ou câncer (como se diz no Brasil). Ele era um excelente artista, amado por muitos e dotado de uma postura humilde e trabalhadora que a todos nos cativava, tanto em Portugal como no Brasil, e em todo o mundo em que era conhecido.
Era um verdadeiro exemplo da força da natureza humana, até mesmo nos momentos mais complicados da sua vida. Era uma Luz para todos nós.
É com enorme prazer que informamos estar “concluída” a produção da Antologia Natureza 2018-2019.
A conclusão deste trabalho poderia nunca ser dada como real, dada a tamanha beleza dos trabalhos recebidos e selecionados e a inspiração por ela suscitada.
Este ano, a Antologia divide-se em Caderno 1 e Caderno 2, em quase 300 páginas de sucesso crescente.
Fica um abraço suave e incondicional, como o de uma árvore, tal qual a árvore e o amor na música seguinte:
“Ombra Mai Fu” (“Sombra nunca foi” ou “A árvore nunca foi sombra”) por Franco Fagioli.
E como estamos em Agosto, tempo de regresso a Portugal de imensos Emigrantes Portugueses, fica uma música de homenagem, com um vídeo realizado durante uma dessas viagens de regresso, por exemplo, a partir de França.
Agosto começa com as suas promessas habituais de mês a meio caminho do final do ano: “como uma renovação sempre reafirmada na pausa das férias”. E muitos de nós olhamos com um pouco mais de atenção os dias que passam, como se o azul fosse mais azul. Fica hoje o convite para leituras que nos convidam a renovar o nosso olhar de leitor(a) e nos levam a crer em literatura renovada.
O livro “Requiem pelo planeta azul”, por Regina Gouveia, é um belo exemplo de obra literária inspirada pela natureza. Vale certamente muito a pena, conhecer este livro para o ler com o interesse de quem procura poesia naturalista e por vezes ativista da causa da conservação da natureza. Chegamos ao fim deste livro e lamentamos o seu final.
Cinzel
Entalhando o tempo, burilando o espaço,
um cinzel de artista
esculpiu este planeta azul de fundos oceanos.
Na memória, aprisionado,
o pó de um longínquo passado.
13.
Água, esquife de Ofélia,
fonte de vida para o lírio,
a bromélia, a rosa, a camélia,
para as flores no altar.
Água de sangues e linfas,
de sereias e ninfas,
dos homens cativa,
cada dia mais ténue o seu respirar.
O livro “Thoughts” (Pensamentos) de Mr. Ben (Chimezie lhecuna) é uma Antologia poética bastante introspetiva, que nos faz pensar sobre o mundo e sobre o que sentimos através dos olhos do autor, que nos colocam perspetivas diferentes das que alguma vez teríamos, pelo menos nas formas filosóficas de as conceber. Um bom exemplo é o seguinte poema:
Your Imagination is Your Reality
The beauty of the world is explained by its imagination
Hence, the reality behind its existence
The essence of humanity’s influence is predicated on the perceptive power of
Imagination
Hence, the reality behind its feats
The dynamic power of nature has its deep-rooted meaning in imagination
Hence, the reality behind its peculiar principles
The experiences you go through as a person have their foundations embedded
in your imaginations
Hence, the reality behind what shaped you as human.
Tradução, por Rui M.:
A Tua Imaginação é a tua Realidade
A beleza do mundo é explicada pela sua realidade
Portanto, a realidade que suporta a sua existência
A essência da influência da humanidade é explicada pelo poder percetivo da
Imaginação
Portanto, a realidade que suporta dos seus factos
O poder dinâmico da natureza tem o seu significado fortemente ancorado na imaginação
Portanto, a realidade suporta os seus princípios peculiares
As experiências que vives enquanto pessoa têm as suas fundações alicerçadas
nas tuas imaginações
Portanto, são a realidade do que te formatou enquanto ser humano.
Podemos encontrar algumas obras deste autor, em Inglês, em:
“Santa In Two Worlds” (“O Pai Natal em Duas Palavras” ou “O Papai Noel em Duas Palavras”)
Para terminar a nossa viagem poética deste início de Agosto de 2019, fica aqui um poema de Pedro Vale, cheio de e a transbordar de natureza marítima:
Açores
Nos campos de verde-chá Dorme a alva frescura habitada.
Sentir o azul cheiro no ar,
Sem gente
No lugar.
- Ah, o mar, o mar dos Açores!
Ouvir a espuma desse mar enxuto no olhar…
Esperamos que gostem dos poemas aqui publicados, caso tenham interesse por algum dos autores e falhe aqui algum link para alguma obra, basta contactarem-nos e iremos, se possível, facultar, com todo o gosto.
Neste preciso momento, praticamente em simultâneo, verificamos seca em Angola (estará o deserto do Namibe a crescer?), fogos em Portugal (teremos nós percebido os reais impactos da alteração climática, ou será apenas o mal dos eucaliptos?), uma vaga de calor na restante Europa (iremos no futuro, nós em Portugal, de férias para o Reino Unido para ter dias de calor e um verão azul suficientemente longo?) e o calor em Nova York (será normal?). Esta é apenas uma observação, sem respostas, apenas perguntas e percebemos que muitas vezes a pergunta é ainda mais importante que uma resposta.
Este é mais um texto neste blog, para nos fazer pensar, nada mais. Estamos já de seguida a ler poesia, talvez a suavidade das palavras nos inspire.
Peixinhos, por KARINA ALDRIGHIS
Peixinho dourado,
Peixinho listrado,
Borbulha no aquário
Blu, blu, blu, blu…
Batendo no vidro,
De um lado ao outro,
Ele fica nervoso!
Blu, blu, blu, blu…
Nadadeiras em riste,
Cauda empinada,
Nado sincronizado.
Blu, blu, blu, blu…
Algas no aquário,
O baú do pirata
A ostra gigante.
Blu, blu, blu, blu…
Ele abre e fecha
Sua boca engraçada,
E borbulha hilário!
Blu, blu, blu, blu…
Com pedrinhas ao fundo
Multicoloridas
Ele sobe e desce.
Blu, blu, blu, blu…
Não cansa de viver
Em um mundo quadrado
De vidro transparente?
Blu, blu, blu, blu…
Até agora que eu saiba
Nenhum morreu afogado,
Que fato inusitado!
Blu, blu, blu, blu…
NOTA: Do livro “Ninho de Borbuletas” (2018), com tradução para Inglês por Leandro Monteiro
Amizade de Verdade, por Marcelo de Oliveira
Amizade de Verdade
Tempestade,
Luta, letargia
Aborrecimento todo dia
Quem diria...
Que a amizade sobrepõe a tudo
Tudinho...
Fortalece, quando de verdade
Nem sempre a gente sabe tudo
Nunca a gente sabe nada
Mas o que sempre sabemos
É que a amizade de verdade
Fica para sempre.
Nota: Instagram de Marcelo de Oliveira: marceloescritor
Dois discursos por Greta Thunberg (Suécia - em Inglês com legendas)
UN COP24 - Discurso de Greta Thunberg (com legendas)
Ainda, embora sem legendas (dublagem), fica este vídeo para podermos perceber a dimensão das manifestações inspiradas por Greta Thunberg. Sem dúvida, um movimento único e oportuno.