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Contos das Estrelas

Neste blog são apresentados conteúdos literários. Para qualquer assunto podem contactar o autor via ruiprcar@gmail.com. Aceitam-se contributos de outros autores, de 4 a 24 de cada mês, relativos ao tema Natureza ou Universo :-)

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Anedota Ecológica e Água

por talesforlove, em 30.01.22

Bom dia.

Hoje fica aqui uma pequena anedota ecológica. Pode-se dizer que não tem muita piada, que é "seca", mas também não chove muito ultimamente e vivemos, portanto, sugere-se também que, como exercício ecológico, se preparem para captar parte da primeira chuva que cair, por exemplo, com recipiente seguro na janela, e depois utilizem essa água para lavar vegetais para o almoço. 

 

Anedota

Porque é que algumas árvores perdem as folhas e as outras não?

Porque algumas são distraídas e as outras não!

 

Entretanto, alguma da água em alguns locais é mesmo apenas a do gelo.

contos agua gelo.png

Até breve.

 

 

Primeiro capítulo de conto [ainda] sem nome

por talesforlove, em 15.01.22

Tal como referido há algum tempo, aqui fica o início de um conto, o qual será dividido em pequenos capítulos. Ainda não tem nome.

 

Capítulo I

 

Sentia-me algures, não sei onde, porque o calor dos lençóis era tal qual o do meu corpo. Não sabia bem, éramos indistintos e, quase sem saber eu aguardava e ansiava por um som que me embalasse, ainda que eu não tivesse consciência disso. Era aquela harmonia, bom, às vezes pouco harmoniosa, que me acordava ou ajudava a acordar já lá iam alguns meses. Em finais de Novembro podemos dizer que nada acontece, mas em Março, quando a ouvi pela primeira vez, a Primavera despontava e aquelas notas, então pouco encadeadas e até, na verdade, bastante desafinadas, pareciam mais algo que existia para me torturar logo pela manhã, e quando digo pela manhã, digo pelas 6 horas da madrugada, durante meia hora, antes que a autora daquela música tivesse de sair para mais um dia de trabalho, ao qual se antecederia, fatalmente, mais uma hora e meia de viagem, em transportes públicos e a pé por ruas sempre apinhadas de gente mas também frias, no sentido em que não eram mais que um obstáculo até ao seu destino final, ainda que o caminho fosse por vezes turístico, não se sentia dessa forma porque, o turista terá de se assumir enquanto tal… e ela era apenas uma pessoa “em trânsito” até ao local de trabalho e nem este nem o trajeto até ele, eram da sua livre escolha.

Não era só a ela que eu sentia a urgência de procurar mas a toda uma vida que pandemicamente se havia esvanecido. Como se me segredassem ao ouvido um suave e longo procura-me. A vida ganhava estrutura de personalidade humana, palpável, com uma identidade que eu não conseguia entender. Um frio agudo percorreu o meu palato, os pés enregelaram, a porta bateu sem razão aparente e eu senti um medo benévolo, dominador da minha alma. Restava-me obedecer e predispor-me a buscar.

Nesse dia de Novembro um vazio profundo fez-me revirar na cama. Sem me aperceber, o tempo transformou aquela música num sustenido da minha vida, que me levava mais além do que era habitual. Sentia-a como aquele por do sol que não esquecemos, vestido de cores que cria em nosso redor que são as mesmas dos sonhos, ou aquele filme que gostamos de rever, porque há sempre mais que ver que, algures no tempo, admitimos que não vimos aquele detalhe, ou também aquela conversa de café que foi muito mais do que algo vazio, pois dissemos o que realmente precisávamos de dizer, saindo pela boca o peso que tolhia a nossa alma, ou ainda aquele passeio pelo bairro, que apaziguou tudo, porque ali tão perto tivemos esse TUDO, que, afinal, nunca sabemos bem o que é. O sustenido é uma elevação de meio tom a uma nota da escala musical, é, portanto, ir além do que seria de esperar e torna-se difícil perceber como isso foi possível. Há uma magia discreta, que para quem não percebe nada de música, se torna difícil de entender, mas não é de estranhar, se não fosse assim não seria magia, porque entender algo parece ser despojar esse ago de toda a magia.

O vento levou algumas folhas pelo ar e uma bateu na minha janela. Pensei que era o início de mais uma sessão de órgão ou piano… mas não. Depois ouvi o som de uma gaivota a piar e pensei que a tempestade a trouxera para ali. Levantei-me de sobressalto e fui à janela. Um dia meio enublado, com uma chuva miudinha aqui e ali e eu percebi que aquele não era um dia normal. E isto era estranho porque não estávamos em época de férias, ainda ontem ao final do dia havia visto chegar a vizinha do piso de cima, a autora daqueles concertos matinais. Pelo contrário, as férias perderam a sua razão de ser, porque a pandemia que nos invadiu em Março de 2020, subverteu os conceitos de descanso, saúde e de trabalho, nunca mais percebi bem o que era mais importante porque afinal tínhamos tudo por garantido e tudo deixou de o ser sem qualquer aviso prévio.

8 horas da manhã, e saí de casa. Levei uma sandes de manteiga vegetal comigo e corri até ao carro. Segui os meus instintos que me levaram até uma pequena rua não muito longe do Parque Eduardo VII. Sabia que ela gostava muito de parar por ali quando, ao final de um qualquer dia de verão, o sol escapava entre as folhas das árvores e com ele o calor que completava todos os espaços em nosso redor e nos fazia mais felizes sem o sabermos, como se pudesse existir uma boa história sem ação e sem que tivéssemos consciência que rigorosamente tudo é passageiro e, na realidade, aqueles momentos são eternos porque nos fizeram sentir bem e é isso que conta, sobretudo quando num dia qualquer nos socorremos da sua memória nos nossos corações.

Andei um pouco com passos vagarosos, quase a fazer lembrar um fantasma, de tão leve e suspenso em pensamentos me encontrava, e subi um pouco pela calçada Portuguesa, vindo do Marquês, optando pela faixa da direita olhando para os bancos de madeira nus e as árvores perenes despidas e as caducifólias sempre verdes, de um verde oliva por vezes negro. A inclinação da subida não me detinha, eu estava decidido, a respiração acelerava sem eu me aperceber e ao olhar na direção da Estufa Fria, não via ninguém e isso absorvia o meu discernimento, nada mais podia fazer, seguia em frente. Um pouco mais acima decidi subir à direita pelo relvado, sem me deter até encontrar a estrada de terra e ao olhar em frente vi-a, sentada no banco ao fundo, a olhar para as copas e de braços estendidos e mãos apoiadas uma na outra, quase sobre os joelhos; parecia imóvel.

Aproximei-me, o som de pequenos pedaços de ramos e folhas secas pareciam denunciar-me e eu sustinha a respiração, não que eu desejasse ser uma surpresa, mas porque não queria perturbar aquele quadro quase inesperado, quase idílico. Tudo me parecia surreal. Eu sustinha o mais profundo ímpeto do meu ser, até que ela olhou para mim e eu me sentei junto dela; nada pareceu inesperado.

Olá, disse-lhe e ela respondeu por aqui. Sim, e tirei a máscara, deixando-a pelo queixo, despi também a máscara dos meus sentimentos e sobretudo dos meus medos e puxei instintivamente a máscara dela para baixo, apenas um pouco, para eu a beijar de uma forma tão plena de novidade quanto aquele era mesmo o nosso primeiro beijo. Ela não disse nada, apenas sorriu encantadoramente, cúmplice, e eu voltei a colocar as máscaras no lugar. Ficas bem, perguntei e ela respondeu que sim.

Após o olhar feito de calor, parti, aquele dia era um dia de busca pela nossa vida passada e agora reinventada. A voz interior que chamava por mim, continuava a fazer-se sentir. Segui, contornando o Pavilhão Carlos Lopes, subi até ao Jardim da Amália e desci logo depois para voltar a dirigir-me para a Avenida da Liberdade.

 

[Continua]

 

Até breve.

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