As Tribos, A Cidade e uma música de Caetano Veloso
Caras Amigas e Amigos Leitores(as) e Autores(as),
É com alguma melancolia, que verifico que se aproxima o Natal e sobretudo o final do ano de 2021. Este ano foi marcado por várias situações de saúde desagradáveis para as quais muito contribuiu a Covid-19. Todavia, a poesia resistiu.
A Antologia Natureza, no seu primeiro volume em papel, o Número 0, contém, entre muitos outros trabalhos o seguinte por Luís Amorim. “As Tribos” fala-nos de beleza e natureza, aves e pessoas, criando um texto com um toque de “magia”.
As Tribos, Luís Amorim, Portugal
Tantas árvores desciam pelos vales que tínhamos pela frente num postal de beleza paisagística a fazer jus ao que de melhor a natureza poderia oferecer. Com ela a fauna ia voando parecendo não ter poiso certo ou talvez querendo apreciar toda a envolvência tão natural. Atentamente observámos até surgir a pausa de aves onde escolha recaiu. Foi numa das partes mais verdejantes e com ausência de humana intervenção. Mais à frente, onde boa opção de fauna não se verificava para o poiso que atrás referimos, o ser humano já lá deixara marcas suas. Não eram pegadas simples, antes complexos vestígios onde não nos era possível vislumbrar começo e fim, muito menos divisões individuais. A tal fauna tinha na envolvência do poiso dito toda a flora que necessitava enquanto na rejeitada zona nada tinha que a pudesse cativar, para além da sua natural aversão ao que os humanos costumam apelidar de progresso. Em vias de chegar a ele ou do nosso recatado dito posto narrativo, em trânsito para o seu destino caso surpresas não se antecipassem. Tribo ali por diante decidiu que o melhor caminho para o progresso tão indispensável chegar seria a subtração de natureza e nestes tempos últimos antes de nós aqui chegarmos para a narrativa, trataram de fazer das suas que é como quem diz «Isto agora tudo nosso é e nem sequer pausa iremos fazer pois fauna não somos nem flora precisaremos.» Mas como em parte qualquer que o mundo tenha, tribos nunca irão faltar, pensando diferente umas das outras. E se houve tribo que antes deu aval para o que se passou por ali no antes, tribo nova surpreendeu-nos porque já vinha a caminho numa longa comitiva para o desfazer tido como tão urgente. Até se questionavam entre eles, os membros efetivos tidos como de direito à admissão que igualmente acontecido tinha no antes da chegada nossa, sobre a presença de artefactos sem falta. Sim, porque para desfazer o mal que vinha de um atrás, longínquo não muito, preciso ser poderia uma série de ferramentas que porventura no inicial momento do que ali constava não foram chamadas à presença. Legislativamente tudo no tratado se encontrava e a fauna até bem aplaudia como se tivesse lido o legislativo manuscrito que também vinha na comitiva. Esta como foi dito ou escrito um pouco mais atrás, longa era pois a primeira secção era a tribo do desfazer e a segunda constante era a tribo do fazer pois que a natureza requer sempre uma intervenção ativa para o crescimento que vem sempre depois do verbo semear. E a do fazer, informados fomos no a seu tempo devido, também era acertadamente designada por tribo do semear. A fauna alegremente voava pois antecipava o que aconteceria no futuro quase a dar-se como presente, até pelo debandar da tribo primeiro apresentada, discretamente pelo lado oposto, eventualmente com diversas compensações, mas isso já a fauna lido não tinha no tal manuscrito que acompanhava a comitiva.
Por hoje, apresenta-se apenas com outro poema, um clássico, talvez possamos dizer, escrito por Sophia, através do qual ela nos fala da nostalgia de não contactar com a natureza quando se vive numa cidade. Afinal, muitos de nós somos hoje cada vez mais impedidos de ter um tempo de qualidade em contacto com a natureza, e eventualmente, incapazes de perceber o quanto esta pode sofrer com a nossa ação pouco inteligente, por exemplo, ao usufruir de uma alimentação pouco equilibrada e/ou excessiva, algo que, a ser analisado, seria com uma análise longa.
A Cidade, de Sophia de Mello Breyner Andressen, Livro Sexto
Cidade, rumor e vaivém sem paz nas ruas,
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e existem praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes e não vejo
Nem o crescer do mar nem o mudar das luas.
Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes.
Para terminar, talvez por este ano, com uma música de Caetano Veloso, que todos reconhecemos e que nos fala de leões, ou seja, nos fala de natureza de uma forma poética.
Até breve.