Neste blog são apresentados conteúdos literários. Para qualquer assunto podem contactar o autor via ruiprcar@gmail.com. Aceitam-se contributos de outros autores, de 4 a 24 de cada mês, relativos ao tema Natureza ou Universo :-)
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Prepara-se a partilha do Poema em 3º Lugar na corrente edição do Concurso Natureza 2020-2021 mas, antes ficam aqui umas merecidas palavras sobre o Poema que ficou em 2º Lugar, já partilhado.
Com efeito, trata-se de uma alegoria do mar, das sereias, enfim dos sonhos. Aqueles que se confundem com as águas e que nos fazem emergir e submergir quando o Fado do Tempo nos permitir. Transborda cor imaginada e um acreditar em algo quase metafísico, quase não perceptível. É bom ler o poema que cheira a mar e a paixão.
Assim, deixa-se aqui o fado "Mapa do Coração" por Ana Moura. Sobretudo, para quem sente saudade de um passeio plenamente livre pelas ruas de Lisboa.
Fica aqui, hoje, uma fotografia pelas vítimas dos incêndios de 2017 em Portugal.
Um pequeno nada.
Apresenta-se igualmente a Tentativa de Crítica Literária
“Anzóis do Tempo . Poemas minimalistas .” por Claudete Soares
O Livro “Anzóis do Tempo . Poemas minimalistas .” de Claudete Soares é mais uma agradável surpresa da Autora.
Anzóis são objetos metálicos, consistência sólida, ponta encurvada e afiada, com formato próprio para conter uma isca que servirá de chamariz para um peixe.
Um peixe é um ser vivo aquático que além de ser considerado um alimento humano, por vezes é decorativo e outras vezes é ainda um símbolo. Todavia, está ausente do título, no qual surge, a palavra “tempo”. Como se refere “do” e não “de” assumimos que o tempo é o utilizador dos anzóis. Ele é o pescador! Mas quem é este Tempo? São momentos, instantes, em que surgem impactos em nós, os quais são sentimentos, pelo menos é o que parece transparecer em grande parte do vasto conjunto de belos poemas.
O adjetivo “minimalista”, que igualmente surge no título, só pode dizer respeito à dimensão dos poemas, quando medidos por número de palavras ou versos, i.e., uma única frase em composição poética, sendo que, neste caso concreto, são três. A sua mera inclusão na primeira porta de entrada da Obra, poderá ser visto como algo depreciativo, à luz determinados olhares e, nesse caso, é injusto pois a cada um dos conjuntos de três versos corresponde a procura a posteriori corresponde à tarefa hercúlea de retratar o que se sente, a fazer lembrar os poemas Japoneses do estilo Haiku.
Partindo do título para depois olharmos para os versos, parece surgir um enigma: “Porquê este Tempo?!” Este parece querer pescar-nos através de pequenos acontecimentos, também eles apenas pequenos ou minimalistas, só se olharmos para os segundos que tomam nas nossas vidas. Acredito que vem à superfície emocional de quem lê este Livro que somos o que sentimos, o que este Tempo nos fez sentir e que tantas vezes não controlamos e portanto, não somos assim tanto o que comemos, como por vezes parece ser lugar comum assumir; afinal, estes anzóis não dizem respeito à comida que queremos ver no nosso prato.
Aliás, até podemos pensar que somos devorados por este tempo, que somos nós as vítimas ou sortudos(as) destes anzóis predatórios que não são metálicos mas de matéria do dia-à-dia. Claro, estimada(o) leitor(a), que qualquer Livro nos pode fazer pensar sobre o Tempo, sucede, porém, que este contém poesia do Tempo, a qual pode ser vista como o resultado de uma pescaria do Sr. Tempo. E este resultado poético, surge às mãos de Claudete Soares: uma pessoa que investe o seu Tempo e recursos para partilhar o que vê ou julga ver, tal qual lhe é humanamente possível. E tudo se desenrola, eventualmente, como se o peixe escrevesse sobre a sua experiência aquando do processo de ser pescado…
Aqui o olhar poético sobrepõe-se ao olhar mais pragmático, sobrepondo à morte a vida, revisitada em cada instante, em cada página voltada, como se fosse um passo no decorrer dessa vida dominante, a qual é vista a partir de três pontos distintos em capítulos separados: … das horas; … da vida; e, … natureza. E aqui o papel do Tempo parece ser inferiorizado pela Autora, ao referir “Pescando instantes”. Não há dúvida que se não fosse o seu (o nosso) olhar atento, para o labor do Tempo, nada retiraria mas, como diria Isabel Allende: “en las historias radica el secreto de la vida y del mundo”, ou seja, ela, enquanto observadora e ladra de histórias da vida poderia sobreviver enquanto escritora. Não seria mais que isso.
Neste Livro, nesta Obra esmerada, delicada e bela, esteticamente e literariamente, Claudete Soares é também ela alguém que tenta capturar para si o mundo e utiliza o seu dom poético natural para poder retratar e nos fazer sentir, aquilo que é o Sr. Tempo que dita. Importa ser…
A própria nos transmite um rebuliço de Tempo na página 83:
“Os olhos da noite
Pranteiam saudade.
Nem a lua dorme”
E, “imediatamente” antes, na página 22, paradoxal, transmitindo imensidão temporal, surge:
“Beijos de anjos
acendem lanternas
do tempo”
Sonhamos a cada momento, com esta união de grafismo e literatura, sendo que o primeiro apelo estético, só mesmo com o livro nas nossas mãos se poderá realmente sentir e compreender.
Que bela leitura e que belo tempo passado a contemplar estas paisagens literárias talhadas pelo tempo.