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Contos das Estrelas

Neste blog são apresentados conteúdos literários. Para qualquer assunto podem contactar o autor via ruiprcar@gmail.com. Aceitam-se contributos de outros autores, de 4 a 24 de cada mês, relativos ao tema Natureza ou Universo :-)

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"A Borboleta e o Pássaro" por Maria P. (Brasil - 1º Lugar na Antologia Natureza 2018-2019)

por talesforlove, em 30.07.20

Em dia de viagem a Marte, ficamos como uma viagem aos sentimentos terrestres. Algo muito importante e talvez mais marcante.

 

"A Borboleta e o Pássaro"

 

Era uma vez uma borboleta. Linda como as manhãs de primavera e colorida como as
flores do jardim. Ela morava com sua mãe num canteiro florido, por onde voava, toda orgulhosa
de suas asas aveludadas e de seus rodopios pelo ar. Quando pousava, os raios de sol, batendo
no colorido de suas asas, produziam um brilho especial que deixava todas as flores morrendo
de inveja.
Essa borboleta chamava-se Céu. Sua mãe lhe deu esse nome por causa do efeito azulado
de suas asas ao sol. Céu era muito esperta, passava o dia todo voando de flor em flor e fazendo
peripécias de borboleta pelo ar. Mas ela não tinha amigos. No canteiro havia formigas, lagartas,
famílias inteiras de joaninhas e besouros. Mas a linda borboleta não queria saber de ninguém.
Achava que ser amiga de seres tão inferiores não ficava bem para uma borboleta tão linda e
especial.
Céu achava que era a única borboleta linda de toda a face da terra e que nenhuma outra
borboleta ou bicho pudesse se comparar a ela. Quando saía de casa, de manhã bem cedinho,
para pegar os primeiros raios de sol nas asas coloridas, Céu nem prestava atenção ao dia que
nascia, ou na água do lago, ou no orvalho que refrescava as flores, ou no canto dos pássaros.
Ela só se preocupava em aparecer bela e formosa mais uma vez e arrancar suspiros por onde
passava.
Todos que moravam no canteiro realmente a achavam especial e maravilhosa, e tinham
até medo de chegar perto dela porque Céu era tão orgulhosa que, das duas uma: ou ignorava
completamente o coitado que quisesse falar com ela ou dava uma resposta atravessada,
malcriada mesmo. E lá se ia embora, toda emproada. E assim o tempo ia passando.
Até que, certa vez, numa manhã ensolarada, como de costume, Céu saiu de casa para o seu
passeio matinal. Passando pela alameda das azaleias, ouviu algo estranho, como um farfalhar
de asas. E o barulho não era de asa boa, que pode voar, era de asa machucada, se arrastando
pelo chão.

Céu não aguentou a curiosidade e resolveu investigar. Foi voando bem baixinho, no
meio do canteiro, sem fazer nenhum ruído, bem suave, até que o barulho ficou bem perto. Ela
continuou voando em completo silêncio, até que, ao sair detrás de uma grande folha, viu um
pássaro no chão, lutando para levantar voo, sem conseguir. Uma de suas asas estava
machucada.
Céu pensou: "Se eu chegar muito perto, ele pode querer me devorar. Mas se eu não for
até lá, não vou saber quem é ele. E ele também não vai saber quem sou eu!". Assim, orgulhosa
como sempre, Céu se aproximou do pássaro que, ao vê-la, fez aquela cara que todo mundo
fazia quando via a linda borboleta pela primeira vez. Ela percebeu a cara de admiração do
pássaro e ficou radiante, tomando confiança para chegar ainda mais perto.
- Olá! Meu nome é Céu! - foi logo se apresentando.
- Nome bonito. O meu é Flauta - disse o pássaro, com uma ponta de dor na fala.
- O que aconteceu com você? - quis saber a curiosa.
- Eu machuquei minha asa. Não vi a cerca e vim voando muito depressa. Quando
percebi, já estava em cima dela e... levei o maior tombo! - disse o pássaro e deu um trinadinho
de dor.
- Ah, coitadinho! - disse Céu, sem nenhum pingo de sinceridade na voz.
- Pois é. Agora preciso me arrastar para um lugar mais seguro até minha asa sarar. E o
problema é que enquanto eu não conseguir voar, não vou conseguir encontrar comida nem
água. E pode demorar um bocado até eu ficar bem o suficiente.
- Eu posso te ajudar - falou a borboleta.
- Pode? Como?
- Bem, eu posso encontrar um bom lugar para você ficar, aqui perto, e trazer um pouco
de comida.
- Puxa! Isso seria muito bom! - animou-se o pássaro.
Claro que a intenção de Céu não era só ajudar o pássaro ferido, mas, assim, ela poderia
ver a sua expressão de admiração toda vez que viesse vê-lo. Já estava cansada das mesmas
caras que olhavam para ela todos os dias no canteiro. Ele era alguém novo e isso a deixava mais
envaidecida ainda. Não era um pássaro bonito, mas, pelo menos não eram aqueles bichos
chatos do canteiro.

E assim, Céu se despediu do forasteiro, depois de arranjar um lugar mais escondido,
onde ele pudesse ficar sem perigo, prometendo voltar mais tarde com um pouco de água e
comida. E saiu radiante, já pensando em que piruetas podia fazer, quando voltasse, para deixálo boquiaberto. Foi até em casa, pegou um pouco de água e comida e voltou para o lugar onde
havia deixado o pássaro. Ele ainda estava lá, com a asa machucada, mas quietinho num canto.
- Olha, eu não consegui trazer muito, mas acho que é o suficiente.
- Muito obrigado, linda borboleta - disse o pássaro, fazendo um elogio à sua benfeitora.
- De nada - respondeu Céu, se enchendo de orgulho.
E assim, os dois passaram o dia juntos, conversando. Quer dizer, só Céu falou, contando
todas as suas peripécias dentro do canteiro, de como os outros bichos admiravam sua beleza,
de como ela tinha nascido linda, do porque sua mãe colocou esse nome nela, de quando ela foi
pedida em casamento pelo feioso Louva-a-Deus. O pássaro prestava muita atenção nas
histórias contadas pela borboleta e ia imaginando as cenas. Às vezes ria junto com ela de
alguma parte engraçada ou apenas suspirava quando ela falava da admiração dos outros
bichos.
E, aos poucos, foi percebendo que a linda borboleta era um tanto egoísta, vaidosa e
orgulhosa, e que não se importava muito com os outros. Mas resolveu ficar calado porque não
queria perder a nova amiga.
Ouviu com paciência suas histórias naquele dia e no outro e no seguinte, esperando que
sua asa ficasse boa para ir para casa. Em todos esses dias, a borboleta sempre vinha, no mesmo
horário, e trazia um lanche.
Quando ela começou a se cansar de contar as mesmas histórias, ele resolveu contar um
pouco de suas aventuras no mundo lá fora do canteiro. E contou sobre um lago muito grande
onde moravam peixes de todas as cores, e sobre os grandes animais da floresta, e as árvores
que dão frutos maravilhosos e tão diferentes que não acabam nunca, e de outros pássaros com
seus cantos tão bonitos e suas penas de cores vibrantes... Céu foi ouvindo tudo e ficando cada
vez mais incomodada. Como assim? Então existiam, fora do canteiro, outros bichos e plantas
que eram tão ou mais bonitos e interessantes do que ela? Isso não podia ser verdade. Devia ser
história daquele pássaro maluco, ela pensou.
Mas o pássaro continuava contando suas histórias. Agora falava de outras terras onde
havia bichos muito diferentes, frutas exóticas, águas limpinhas e frescas, flores gigantes e
animais minúsculos. E Céu pensava: "mas como eu nunca soube de nada disso? Então o mundo
não é igual ao canteiro?" E uma coceirinha foi tomando conta de Céu, uma vontade de
conhecer aquelas coisas todas que o pássaro estava contando, uma comichão de saber mais, de
ver com os próprios olhos.

E foi assim que, numa tarde, o pássaro achou que já era hora de experimentar a asa
machucada, para ver se conseguia voar. Preparou-se, deu um impulso e... conseguiu! A asa
estava boa. Céu olhou para o voo do pássaro e sentiu uma pontada estranha, uma dorzinha
bem fininha lá dentro de si. Achou esquisito e se assustou um pouco. Nunca havia sentido nada
parecido. Mas ali, olhando o pássaro alçar voo, preparando-se para retomar seu caminho e ir
embora, Céu sentiu que não queria ficar longe dele.
Ela não entendia muito bem ainda, mas estava com medo de sentir saudades, pois não
sabia o que era isso. Era a primeira vez que sentia medo de que alguém lhe fizesse falta.
Quando o pássaro pousou ao seu lado, Céu estava murcha. O pássaro notou sua tristeza.
- O que foi? - perguntou preocupado.
- Você já está bom, agora pode ir embora... - disse, numa voz sumida.
O pássaro, enternecido pela tristeza da nova amiga, abraçou-a com cuidado e disse:
- Sempre seremos amigos. Eu virei visitar você e poderemos sair por aí, conhecer outros
lugares, beber água fresca do rio. Olha, eu sou muito grato por sua ajuda, mas preciso voltar.
Tenho um mundo inteiro para voar... Mas a nossa amizade nunca vai acabar, eu prometo.
Um meio sorriso se abriu no rosto de Céu. Um sorriso que era um misto de dor, alegria,
tristeza, saudades... mas sem nenhum pingo de vaidade ou de orgulho. Céu também não sabia
disso, mas a amizade com o pássaro tinha mudado alguma coisa dentro dela.
Então o pássaro se preparou para ir embora. Os dois se despediram com muito carinho,
prometendo se encontrar em breve. Como lembrança, Céu deu a ele um ramo de miosótis, que
o pássaro guardou.
- Até breve, querida amiga.
- Até breve, querido amigo.
E antes de levantar voo, o pássaro também deu seu presente a Céu. Um presente tão
maravilhoso que ela nunca mais esqueceria. Não era nada de guardar, nem de comer, nem de
pegar. Não era sequer algo que ela pudesse mostrar para alguém. O pássaro se ajeitou no galho de azaleia e cantou. Um canto tão doce, tão terno, tão magnífico que Céu sentiu como se o verdadeiro céu tivesse descido na terra. E então ele se foi. E Céu finalmente entendeu porque seu nome era Flauta.
Ele era um rouxinol.

 

Até breve.

Poesia; no Dia Nacional da Conservação da Natureza

por talesforlove, em 28.07.20

Céus em ondas verdes, por António do C.

 

Olhei para os céus e reolhei-os,

Louco de esperança, ver dança,

Em movimento de folhas, sonhos,

Aparentemente pensamentos sem nexo,

Aparentemente nadas e…

Ao virar da esquina redescobri, perplexo,

Que a vida estava ali, condensada,

E foi por vontade dos universos,

Que aqueles nadas me deram novo caminho,

Maior que todos os outros com “sentido”,

Pois afinal a vida, é depois da esquina: a alegria.

 

Independente, me deixei levar naquele dançar,

Amar, feito de esperanças e suaves verdes,

Energia feita de cores de perseverança,

Tal como se no meio do caos, sobrevivessem os meus passos,

Por estranha mão invisível, sábia e forte, guiados

Que tal como coração que não se vê,

Me acompanha por entre aparentes tudos,

Revelados em nadas, que não criam nem ao longe vão,

E nem no perto descobrem a flor, radiante, preciosa,

Semelhante a vento fresco da manhã Veraneante;

E delirante, segui pela estrada em encantamento: verde.

IMG_4021 pt.JPG

 

Até breve.

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